NO DIA QUE ME MATARAM

No dia que me mataram eu saí sem destino
e fiquei invisível vagando pela rua.
Eu não sabia que tinha morrido,
se soubesse teria atravessado a rua sem olhar
e depois teria pulado da ponte
e me deitado e dormido na linha do trem.
Eu não sabia que morrer era isto,
que era assim tão leve e tão estranho.
No dia que me mataram eu saí da igreja
e caminhei sem rumo pela rua.
Eu não sabia que estava morto,
mas sentia algo diferente por dentro.
Sentia uma tristeza e um desânimo
que invadiram meu corpo.
Me mataram sem me apunhalar,
sem disparar um tiro sequer.
Apenas alguém me disse: "Você está desligado".
Depois de 40 anos de trabalho na igreja
alguém, sem me dar um tiro, ou uma facada,
me matou e nada mais restou de mim.
26-02-2022

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