Cícero Alvernaz

AINDA BEM QUE ESTOU VIVO Já comprei coisa estragada, já caminhei por onde não havia estrada, já dancei sozinho no escuro, já comi arroz duro, já lambi o prato, já corri com medo de briga, já me apaixonei de verdade, já levantei tarde, já caí da escada, já atravessei rio na pinguela, já desfilei numa passarela, já fiquei sem palavras, já falei sem ter assunto, já cantei em igreja, já discuti com religioso, já admirei político, já fui extremamente crítico, já brinquei de esconde-esconde, já me perdi na cidade, já beijei sem ter vontade, já fiz algumas maldades, já encerei o chão, já tapei buraco com a mão, já nadei em rio, já tremi de frio, já empurrei carroça, já morei na roça, já cuspi no chão, já destruí alçapão, já corri de vaca, já finquei estaca, já mordi semente, já quebrei o dente, já fiz de tudo um pouco, já me comportei como um louco, já me senti nocivo - ainda bem que estou vivo. Cícero Alvernaz (autor), 16-05-2015.

JARDIM DO ÉDEN Paraíso original onde vivia um casal livre de dor e pecado. Passeava todo dia com muito prazer e alegria andando por todo lado. No meio da natureza onde só tinha beleza, era tudo natural. Viviam banhados de luz caminhavam sempre nus livres da dor e do mal. Viviam na inocência sentindo de Deus a presença bem na viração do dia. E Deus com eles falava, e o casal se alegrava, pois tinha amor e harmonia. Nesse Jardim do Éden algumas coisas sucedem e põe tudo a perder. Aparece a serpente com Eva falou de repente, falou e se fez entender. Eva então foi enganada pela serpente malvada, depois enganou a Adão. Ambos depressa pecaram: comeram do fruto e gostaram, daí veio a confusão. Hoje o pecado se alastra, fez da mãe Eva madrasta e maculou a Adão. Não tem mais Jardim do Éden e as coisas que aqui sucedem são pecado e maldição. Essa história sucedeu e tudo que aconteceu foi triste, foi ilusão. Mas do céu desceu Jesus se humilhou, morre

ESCREVO Escrevo, mas não alimento a ilusão de ser lido, relido, e admirado. Trata-se de uma entrega a mim, ao tempo, ao espaço, quase uma brincadeira de quem não quer brincar. Escrevo como quem procura estrelas de dia, ou vagueia de noite sem destino e sem medo. Às vezes me atrapalho com as luzes e então me abrigo na penumbra esperando o tempo passar. Escrevo porque não consigo me comunicar de outra forma. As palavras ditas são esquecidas e se perdem. Prefiro falar comigo a suplicar a um amigo que fique. Eu sempre me encontro, mesmo quando vagueio e tento me esconder. Escrevo e me leio e saboreio as palavras. Brincamos livres todo dia num encontro de vogais e consoantes como dois amantes. E dessa brincadeira nasce o dia, o sonho, a poesia, nasce essa vontade louca de continuar vivendo e continuar escrevendo. Cícero Alvernaz (autor), 14-05-2015.

CADEIRA VAZIA Espaço que se oferece A quem chega, a quem passa, Descanso pro corpo cansado Na sala de espera e na praça. Serve ao velho e ao jovem, Alivia o cansaço, É descanso, energia, Tão importante espaço! A cadeira está vazia, Mas ninguém quer se sentar, É espaço reservado Ou será que atrai azar? No teatro, na igreja, No cinema ou na sala, Ei-la vazia, tão só, Querendo alguém pra ocupá-la. Em lugares importantes A cadeira está vazia, Concorridas reuniões Ou mesmo na Academia. Essa cena corriqueira Provoca, suspira e fala – O poema da cadeira Que jaz vazia na sala. E ninguém pode ocupá-la, pois ela a todos resiste. E a cadeira continua, tão só, vazia e triste. Cícero Alvernaz (autor).

AMOR NÃO CORRESPONDIDO Coração sentido sem saber o ocorrido pelo amor que não foi correspondido e se fez indiferente tão triste e tão descontente... Coração sofrido, tanto pranto foi vertido em um sonho num momento mal dormido que se fez tão indeciso, sem resposta, sem aviso... Coração partido pela dor tão invadido sem saber que este tempo mal vivido deixou sentidas lembranças, malogrou as esperanças... Coração doído, machucado, dolorido, pelo tempo que passou tão esquecido e se fez tão humilhado do seu peito arrancado... Cícero Alvernaz (autor), 12-05-2015.

Um dia me sentei perto de uma senhora num ponto de ônibus e ela começou a falar e afirmou que as pessoas já nascem com o seu destino traçado e ninguém morre antes do tempo. Ouvi respeitosamente a anciã, mas posso adiantar que não concordo com ela. Se as pessoas tem o dia certo e a hora certa para morrer, então por que procuram os médicos, muitas vezes até sem estarem doentes? Sabemos que muitas pessoas morrem por falta de atendimento, principalmente no Brasil onde a saúde pública é extremamente precária. Outras, porém, quando são bem atendidas prolongam a sua vida através de um bom tratamento, obviamente quando tem dinheiro para isto. A vida pode, sim, ser prolongada e ter uma qualidade melhor se a pessoa tiver condições para tal. Portanto, essa coisa de destino não é verdade. Na verdade, quem faz o nosso destino somos nós. Deus nos deu inteligência suficiente para isto. Para quem acredita na Bíblia, nela está escrito o seguinte: "O temor do Senhor aumenta a duração de sua vida, m

POESIA Poesia começa com P. P de paixão e de pecado. Depois vem o O de olhar, Vem o E de esperar, Vem o S de sorrir. Vem o I de insistir e o A de amar. 10-05-2015. Cícero Alvernaz (autor).