Postagens

Mostrando postagens de março 22, 2015
FALAR COM A BOCA CHEIA Uma das coisas mais feias é falar com a boca cheia. Não só é "coisa feia" como é difícil e fica quase impossível entender o que a pessoa está querendo falar. As palavras não saem corretamente, a pessoa cospe a comida e fica parecendo uma coisa do outro mundo, embora não seja. Pior do que falar com a boca cheia é perguntar alguma coisa para uma pessoa que está nesta situação, sabendo que ela não pode responder. Mas há coisa ainda pior. Pior do que tudo isto é a pessoa que gosta de falar com a boca cheia, prefere falar assim, não sei por quê. Tem gente que gosta, talvez ache bonito, chique, sei lá. Parece mentira, mas tem ser humano que é assim. Nessas minhas andanças já vi cada coisa, presenciei cada mania estranha! É melhor nem contar. Cícero Alvernaz, 28-03-2015.
EU ME AMO Eu escrevo e me leio, me releio, escrevo, reescrevo e me releio. Eu me curto e me admiro, faço parte do meu fã clube, da minha torcida organizada, me dou autógrafo e me elogio narcisisticamente. Gosto de mim, passo horas me vendo, me lendo, me relendo. Ando comigo, não me deixo nem para ir ao banheiro. Sou meu fã de carteirinha, de caderneta e de lapela. Adoro me ler, nem que seja uns versinhos de pé quebrado como se dizia antigamente. Curto tudo, até os rabiscos, rascunhos, e os erros que, conscientemente, cometo. Eles fazem parte da minha arte; o artista nunca erra: ele comete pequenos equívocos. Eu me admiro, me dispo e me olho curioso e orgulhoso de ver tanta beleza exposta e digo: que desperdício! Tanta beleza pra ninguém pegar, tocar, admirar... Aí eu escrevo de novo, conto minhas aventuras com as letras, me leio, me releio, unicamente por prazer. Um prazer incontido, atrevido, saído das profundezas do meu âmago, das minhas en
PASSARINHO De onde estou eu vejo a voar um passarinho, cheio de amor e desejo, talvez buscando seu ninho. A ele pertence o espaço e também a natureza, ele não sente cansaço e voa com ligeireza. Seu mundo é a liberdade, este é o seu destino, se perde na imensidade feito o olhar de um menino. Já vai longe o passarinho, eu ouço bater suas asas, voa em bando ou sozinho, voa por sobre as casas. Com ele eu sigo também nas asas da poesia, que eu escrevo para alguém que eu conheci um dia. Voa alto passarinho, seu nome é liberdade, pelo espaço, com carinho, muito longe da cidade. Cícero Alvernaz, 26-03-2015.
O SOM DA RUA O som da rua não me alimenta, não me sustenta, nem me satisfaz. Gritos de meninas, roncos e buzinas, motos e carrões tiram minha paz. Tem o verdureiro, tem o vendedor, tem o cobrador, tem o leiturista. Todos me incomodam e me desconcentram, destruir-me intentam como um anarquista. O som da rua atrapalha o meu dia, afasta minha poesia, luta contra minha paz. Tem o vendedor de queijo no atacado e no varejo mexendo com meu desejo, tem o vendedor de gás... Eu prefiro o silêncio para meus versos compor, talvez falar de amor ou de qualquer outro tema. Fico assim sem entender, dá vontade de correr, quem sabe, tudo esquecer, eis o meu grande dilema. Cícero Alvernaz, 26-03-2015.
Sempre achei um barato escrever, colocar as ideias no papel, viajar, flutuar e me sentir mais eu. No começo foi legal e continua legal, mas com o tempo veio uma dúvida: quem vai ler tudo isto? Confesso que fiquei preocupado e até pensei em parar. Um dia, uma jornalista me fez, indiretamente, esta pergunta e eu disse: escrevo pra mim, se ninguém ler, basta que eu leia e goste. A partir daí fiz disto a minha meta: escrever pra mim. Eu sei que pouca gente lê, pois acha cansativo e uma perda de tempo, algo desnecessário. Mas eu leio, me leio e me releio, escrevo, reescrevo, curto e me curto, e é isto que alimenta a minha arte ao longo de quase 50 anos. E viva a escrita e salve a leitura! Cícero Alvernaz, 24-03-2015.