Cícero Alvernaz

TERNURA Num olhar que se fixa, num sorriso que se abre, num gesto, num aperto de mão, num jeito de falar e de sentir, numa forma de chegar e de partir, num abraço, num carinho, num momento, numa fala, ou quando a gente se cala e se queda para ouvir, seja aqui ou onde for, uma expressão de amor muita ternura exala e complementa a vida na chegada ou a na saída como flores a bailar, o vento a respirar, o sonho a se realizar, a vida, enfim, a pulsar, o canto que a gente ouve docemente a soar, o livro que abençoa, o passarinho que voa, uma lâmpada que acende, um perfume que recende, um barco que longe vai, uma folhinha que cai, momento de paz e de fé, um gesto de gratidão, um instante de paixão, uma breve oração, com muito amor e emoção, um carinho de alma pura faz nascer a alegria, faz se abrir a poesia, a isto eu chamo ternura. Cícero Alvernaz (autor) 23-07-2016.

TROCA Eu te dei uma flor num gesto espontâneo, de uma forma usual, assim, costumeiramente. Juro que não pensei que algo mais pudesse acontecer depois daquele gesto tão simples e tão bobo que eu logo esqueci. Mas uma flor tem magia, tem encantos, tem poesia, e ela falou por mim. Pra não encompridar a história, eu me lembro que você no momento agradeceu com seu jeito, com seu gosto, com um beijinho em meu rosto e depois devagar se foi. Nem sei onde colhi aquela flor tão mimosa, mas sei que foi uma atitude simples, mas carinhosa, que falou e que também marcou. Eu te dei uma flor colhida em algum jardim e você em troca, meu amor, deu seu coração pra mim. Cícero Alvernaz (autor) 23-07-2016,

FELICIDADE Felicidade é algo tão simples que as pessoas, geralmente, não percebem. Um gesto, por mais simples que seja, pode trazer ou levar felicidade. Uma palavra educada, um agradecimento, uma gentileza... Vivi na simplicidade e foi naquele tempo que eu conheci a felicidade. Hoje, vejo que a felicidade escorre entre os nossos dedos e se perde, principalmente quando buscamos algo maior ou alçamos voos mais altos e nos esquecemos que a vida é simples, uma flor é algo simples, um sorriso é simples e muitas vezes nos esquecemos que a felicidade, que buscamos em tantos lugares sofisticados, está na simplicidade. Por isto amo a simplicidade das poesias, do verso rimado ou não, mas que consegue falar ao coração e umedecer os olhos. Cícero Alvernaz (autor), 29-05-2015.

VALORES Existem valores que não valem tanto. Seu valor é relativo e perde o seu encanto. Existem valores que se perdem na estrada. Na verdade, esses valores, não valem quase nada. Valores são qualidades inerentes às pessoas. Seres que vivem a vida e praticam coisas boas. Valores fundamentais: família, sociedade. Que somados multiplicam formando a dignidade. Existem valores que às vezes são invertidos. Que se perdem com o tempo e ficam assim esquecidos. Devemos todos, na vida, ser amigo e ser irmão. E manter os bons costumes, ter valor e educação. Cícero Alvernaz (autor), 22-07-2014.

INSEGURO Claudicante e cambaleante vou caminhando pelos caminhos das letras, tropeçando num A e me esbarrando num B tentando formar palavras novas, neologismos, mas só encontro obscurantismos impedido de ver bem pela luz fraca dos verbos com seus tempos e irregularidades. Fomentando ideias, buscando formas e imaginando versos tropeço em mim, na minha pequenez diante do universo de letras, símbolos e signos numa caminhada exangue e mui cansativa. Quero parar, mas o desejo de alcançar me impele e me diz que logo vou chegar. Me pergunto: chegar onde? Custo a entender esse mundo de letras e palavras que saltam de mim e formam esse caminho por onde palmilho, como se fosse um trilho que vai dar em algum fim de mundo, caminhar sem rumo e profundo que me deixa antever um futuro sem futuro. Mas mesmo assim caminho muitas vezes inseguro. (21-07-2016). Cícero Alvernaz (autor)

GUERRA E PAZ Por baixo, por cima, embaixo, em cima, de lado, atrás, cutuca demais, apressa e corre, deseja e vem e diz que não tem, mas tem e tem mais, renega e faz, em guerra e paz, por baixo, por cima, embaixo, em cima, eu gosto do clima que esquenta e contrai, cuidado, porém, pois a cama se quebra a gente da cama se rola e cai. 21-07-2016, Cícero Alvernaz (autor)

TARDES QUENTES Nas tardes quentes O cheiro que vem Das flores, da terra, Me lembra alguém. Das frutas o cheiro Enche o ar... E o vento sem pressa Eu sinto passar. Eu ouço um barulho: Festejos e farra, E vejo crianças Fazendo algazarra. Na estrada distante Avisto alguém Que vem caminhando De longe, sim vem. No ar passarinhos Revoam em festa, E enchem de som A densa floresta. Nas tardes quentes De som e de cor Eu sinto no ar O cheiro do amor. Cícero Alvernaz (23-04-2006

FRIO QUE DÓI Dói os pés, a canela e os dedos, tudo bem caprichado, sem perdão. Dói o nariz e sai água,  dói o peito e dói o coração. Mas não é dor apenas doída: é uma dor ardida, diferente. Dói a perna, os braços e os nervos, dói a boca, os olhos e o dente. É frio pra ninguém botar defeito, às vezes chega abaixo de zero! Frio que eu não gosto, mas suporto, frio sem cerimônia, frio que eu não quero. Dói o corpo e dói até a alma, dói a orelha e dói até o osso. O frio só sabe fazer doer, dói da ponta dos pés até pra cima do pescoço. Cícero Alvernaz (autor) 19-07-2016.