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Mostrando postagens de setembro 13, 2015
AQUELE CASAL A visita chegou na casa daquele casal e achou tudo muito estranho. O casal começou a discutir fortemente e já estava quase a se pegar literalmente. Tentaram contornar a situação, mas aquilo parecia incontornável. As coisas pareciam descambar para o pior, para os “finalmentes”, como se diz. Aí um dos visitantes resolveu falar e tentar interferir de alguma forma naquela confusão: “Se com visitas aqui vocês agem assim, imagina então sem visitas o que deve acontecer”. Foi quando a mulher falou: “A gente faz isto para a visita ir embora. Depois que saem tudo volta ao normal, a gente dá uns “pegas” e tudo fica bem de novo". Cícero Alvernaz (autor) 18-09-2015.
MENESTREL Eu canto, e este meu canto é mensagem, acalanto, que sobe até ao céu. É a voz da poesia, o cantar em pleno dia vindo de algum menestrel. Eu olho e não te vejo, sinto amor, sinto desejo, nos meus versos sob o véu. É a voz de um passarinho a procurar o seu ninho, é a voz de um menestrel. Minha rima não é rica, mas este é o som que fica vagando longe ao leu. É a voz que se dissolve e cantar enfim resolve como um velho menestrel. Eu canto e não me espanto, nem me escondo sob um manto enrolado num papel. Eu me mostro pelas praças, canto amor, canto as desgraças, sou um simples menestrel. Cícero Alvernaz (autor), 19-09-2015.
MOMENTO DE PAZ Ela vem, ele vai, a vida se retrai no seu relógio de flor. Ela vem, ele vai, com eles vai o amor. O tempo de longe observa esse incrível bailar. Duas almas se procuram querendo se aproximar, com elas vai a paixão pulsando no coração. Ela vem, ele vai, se aproximam pouco a pouco, meio cegos, meio loucos, tentando em vão disfarçar, evitando se olhar... Nenhum ruído se ouve nesse longo caminhar. Todos assistem atentos querendo participar. São estrelas que se mudam querendo enfim se tocar. Ela vem, ele vai, e nesse momento de paz, num gesto que se satisfaz a tarde, romanticamente, cai. Cícero Alvernaz (autor) 07-07-2000.
CAMINHO Descobri o caminho e por ele segui sozinho como folha no deserto. Nenhum olhar me viu, ninguém me seguiu nem de longe, nem de perto. Me encontrei no caminho e triste me vi sozinho como um barco em alto mar. O silêncio me cobriu, nenhuma folha caiu, não tive com quem conversar. Segui por esse caminho sem ouvir um passarinho, como um louco a vagar. A solidão era imensa, não vi nenhuma presença que pudesse me acalmar. Como é triste esse caminho! Mas é bom andar sozinho e amar a solidão. Olhando a infinda distância pude voltar à infância e dar chance ao coração. Cícero Alvernaz (autor), 08-07-2003.
ESCREVO PARA NÃO MORRER DE TÉDIO Escrevo para não morrer de tédio, escrevo para não morrer por dentro, escrevo para contar os meus segredos e para espantar os meus medos, escrevo porque não tenho mais o que fazer nesta vida sem propósito e sem nexo. Escrevo porque me sinto bem assim, escrevo porque ainda não chegou meu fim e quando ele chegar vou continuar escrevendo. Na vida, todos fazem alguma coisa: o ladrão rouba, o político mente e engana, o trabalhador corta cana de sol a sol, a dona de casa lava, cozinha e passa, o pedreiro faz carinho na massa enquanto o dia passa, e a casa vai sendo erguida. O médico tenta salvar vidas, mas nem sempre dá conta do recado. Eu escrevo por vários motivos, principalmente porque estou vivo e meu coração pede e insiste. Na vida, todos fazem alguma coisa: o comerciante faz o seu balanço, o funcionário público conta as horas para a sua aposentadoria e depois que se aposenta se entendia e eu escrevo para não morrer de tédio
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CRISE ANUNCIADA Uma crise anunciada com data marcada, pronta para ser deflagrada nos quatro cantos do País. Uma situação que vinha se arrastando há muito tempo e só agora foi pressentida e sentida realmente. Há coisas que acontecem de repente, há outras, entretanto, que podem ser vistas, sentidas e serem evitadas. Mas em política isto raramente acontece, pois os políticos preferem fazer vista grossa e ouvidos moucos para o que está acontecendo ao redor. Tudo vai se mostrando, se aclarando, deixando antever o que vai acontecer. Gastos além da conta, política social mal organizada e mal realizada, assistencialismo desenfreado, ajuda a outros países sem cuidado e sem uma consciência das consequências, aumento de ministérios (cabides de emprego) má administração, corrupção, fazer política e demagogia, autorizar aumento de salários ou subsídios a políticos e ministros, fazer vista grossa para a corrupção, não levar em conta os alertas da imprensa, ignorar a crise, como disse Lula,
O VENTO O vento vem sibilando, vem soprando pela estrada, vem rugindo apressado, acordando a quem dorme com seu jeito assanhado. Vem levantando poeira, vem soprando sem parar, inventando brincadeira co'as crianças do lugar. O vento se espalha à tarde, faz o dia sentir medo, sacode a roça de milho e balança o arvoredo. Com sua força de vento faz tremer a natureza, sopra tudo num momento, apaga a vela acesa e segue fazendo proeza. Na tarde que já desmaia muita gente não entende e também não compreende. A mulher segura a saia e o homem se segura, vento venta ventania, misto de dor e alegria, esse vento leva tudo, só não leva a poesia. Cícero Alvernaz (autor), 15-09-2015.
AQUELA PORTA Aquela porta quando abria fazia barulho, rangia, alguma coisa pedia, e de dor estremecia talvez pedindo socorro. E depois quando fechava nenhuma greta deixava e assim ninguém escutava o que se fazia lá dentro. Eu criança curiosa gostava de abrir a porta que era velha, meio torta, para ver o outro lado. Mas era tudo normal, tudo simples igualmente, lá dentro não tinha gente: era a porta que gemia com seu jeito irreverente. Aquela porta quando abria parece até que sorria, dava boas gargalhadas, parecia um fantasma assim no meio do dia. Bem detrás daquela porta alguma pessoa morta ou coisa do outro mundo, era tudo invenção, era imaginação. Na verdade, nada tinha, mas eu ouvia e via e depois então corria com medo daquela porta. Cícero Alvernaz (autor) 14-09-2015.
TRISTE Ser triste, estar triste, permanecer triste, se encher de tristeza, quedar-se na incerteza e começar a chorar. Os olhos lacrimejando, o coração chorando a boca só reclamando e o mundo a desabar. Quem nunca ficou assim neste estado deplorável? Isto faz parte da vida, faz parte do aprendizado. Quem nunca sentiu estas dores? Ser triste tem seus motivos e enquanto estivermos vivos passaremos dissabores. Cícero Alvernaz (autor), 14-09-2015.
A SOMBRA NÃO ME ASSOMBRA A sombra não me assombra, o rio não me assusta, o medo não me atinge, o mato não me fere, a arma não me mata o tempo não me cansa, a flecha não me alcança, o vento não me contagia, meu som é som de poesia, no telhado, no terreiro, no quintal e no pesqueiro, o chão é meu escudeiro, meu amigo, meu parceiro, minha escada onde piso, motivo do meu sorriso, minha estrada que me leva, minha luz e minha treva, meu sentimento, meu ai, beleza que vem e que vai nesta longa caminhada, meu sonho, meu mundo, meu tudo, meu nada, pedaço de bem querer, razão deste meu viver. A sombra não me assombra, o rito não me atrapalha, meu sentido nunca falha como um corte de navalha tão preciso, tão doído, que às vezes deixa perdido quem por ele for ferido num momento de descuido, sem tempo pra respirar, o mundo se vê acabar, mas é preciso marchar com todos os circunstantes, ir com coragem avante sem os embates temer. A vida é este caminho, me de