Cícero Alvernaz

ROTINA Ninguém consegue viver sem uma rotina. A pessoa se acostuma, o corpo se acostuma e a rotina acaba se tornando uma coisa natural e normal dentro do dia. Mas de vez em quando é bom sair da rotina, isto faz parte da vida, é uma necessidade quebrar a rotina e tomar outra água, outro rumo dentro do contexto da vida. É bom fazer uma viagem, visitar lugares pitorescos, andar de barco ou de canoa, passar uma tarde a toa olhando o sol se esconder e tirar uma foto do por do sol  em algum lugar paradisíaco. É bom sair da rotina, mas a rotina não sai da gente porque na volta ela vem e nos pega na primeira curva da estrada. Hoje, o único inconveniente é que com esta onda de "invasão e roubo nas casas" tem que deixar alguém de confiança olhando e ainda alugar um "bom cachorro" para dar uma lição ao bandido. No mais, tudo tranquilo, saia da rotina, a mente e o corpo agradecem. (20-09-2019)

BACANA Este termo ainda é muito usado, é um adjetivo que qualifica uma pessoa boa, uma pessoa legal, mas também vem de "bacanal", uma festa pagã regada a muito vinho e, como se sabe, o vinho em excesso embriaga e tira o "juízo" das pessoas. Quando eu era criança ouvia muito esta expressão: "Fulano é bacana", como forma de elogio à pessoa. Nunca gostei de chamar ninguém de bacana, sempre preferi outros adjetivos. Escrevendo ontem, não sei por que usei este termo e depois arre pendi e já o apaguei. Tem palavras que a gente usa e depois deixa de usar, muitas são termos pejorativos, ou mesmo considerados palavrões que a pessoa deve evitar. Não soa bem, sempre digo: palavras que você não pode falar em público não deve ser coisa boa, portanto é melhor evitar. Se você me acha uma pessoa "bacana" eu agradeço, mas prefiro ser uma pessoa "legal, uma boa pessoa, ou gente boa". Assim fica melhor, assim soa bem melhor. (21-09-2019)

ALGUÉM SE LEMBRA DISTO? O povo, o cidadão, não manda em nada mesmo. Em 2005 foi feito um referendo popular, ou plebiscito em que o povo votou sim ou não ao desarmamento da população. O povo votou NÃO ao desarmamento e o NÃO venceu. Logo depois do plebiscito o governo da época (todo mundo sabe quem era o presidente) começou uma campanha para desarmar o cidadão, ou seja, fez o contrário daquilo que a população votou. Fez o povo de bobo e ainda gastou milhões com o tal referendo. Tenho boa memória e me lembro muito bem desta palhaçada. Eu, logicamente, votei NÃO, o qual ganhou com mais de 80% dos votos. (21-09-2019)

VÍTIMA DA SOCIEDADE Eu não sou uma vítima da sociedade. Aliás, quem é vítima da sociedade? Nós somos vítimas de nossas próprias escolhas e colhemos aquilo que plantamos. Existem vítimas do transito, vítimas dos vícios, da violência, das doenças, do acaso que por acaso nos acomete, dos exploradores, dos maus políticos, dos péssimos governantes e sua fome por propinas e fraudes. A sociedade, em si, não faz vítimas, pois nós fazemos parte da sociedade, compomos a nossa classe so cial, trabalhadora e consciente. É fácil se dizer "vítima da sociedade", é uma saída, é uma forma de culpar os outros pelos nossos desajustes e erros. É fácil culpar alguém e nos rotularmos de "coitados". Culpar o patrão, o professor, o pastor, a dona de casa, a autoridade policial, o padre, o parente... É cômodo dizer: fiz tal coisa porque não teve jeito, fui obrigado a fazer, fui obrigado a cometer este ato. O correto é se olhar no espelho, se encarar de frente é assumir que a culpa, ou parte

20º ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA GUAÇUANA DE LETRAS Foi no distante ano de 1999, na Biblioteca Municipal (antiga Estação), que um grupo se reuniu e decidiu criar a Academia Guaçuana de Letras. Não vou citar nomes, pois corro o risco de esquecer alguns. O fato marcante é que se iniciou ali o embrião, a gestação da nossa Academia. No começo recebemos a ajuda de um pessoal de Itapira, onde já havia Academia e isto nos favoreceu em relação àquele empreendimento. Pessoas de vári os setores da sociedade, com diferentes vivências, se incorporaram àquele projeto que aos poucos germinou e deu vida ao sonho que se iniciou com a Casa do Escritor (CAES) e veio desaguar na Academia. O crescimento foi demorado e encontrou alguns obstáculos em seu trajeto, mas obedeceu uma sequência que se incorporou com o passar do tempo. Hoje, passados vinte anos vemos os frutos deste projeto, deste sonho acalentado e hoje realizado para o bem da coletividade guaçuana.  Parabéns  à Academia Guaçuana de Letras pelos 20

VAI NESSA FORÇA! Vai nessa força, vai nesse andar sossegado, vai nesse passo sem pressa, essa ponte atravessa e me espera do outro lado. Vai nesse jeito manhoso, como um menino teimoso, vai caminhando sem pressa fazendo sua promessa com seu jeito vagaroso. Vai conversando sozinho vai medindo o seu caminho, vai contando as formigas, vai olhando os passarinhos, que descansam nos seus ninhos sem mal querência e sem brigas. Vai nessa força, vai nesse passo lento, segue seu rumo, seu norte, te desejo boa sorte, que sejas livre e forte com Deus no seu pensamento. Cícero Alvernaz, autor. 20-09-2019.

ESQUEÇA O ONTEM Esqueça o ontem com os seus paralelepípedos, com seus buracos e deformações, com suas esquinas e lombadas, com suas estradas esburacadas. Esqueça o que passou, ou pelo menos tente esquecer, o ontem se passou, virou a página, fechou o caderno e o guardou na gaveta, foi um arco-íris sem cor, foi uma borboleta que pousou na flor e depois voou, foi um carinho que nunca mais acarinhou, foi um rio que no mar desaguou. Esqueça o ontem e se atenha ao hoje, o ontem, por melhor que tenha sido, já passou. 19-09-2019. Cícero Alvernaz, autor.

HOJE NÃO VOU ESCREVER SOBRE O CALOR Hoje não vou escrever sobre o calor. Vou escrever sobre o frio, o frio da indiferença e da descrença que permeia este mundo. Muita gente passa e não vê, ou finge que não vê. Há muitas pessoas em situações complicadas largadas por aí. Há muito ranço e muita hipocrisia onde deveria haver alegria e poesia. Há muito coração fechado e muito olhar voltado para outro lado. É o frio da consciência, o gelo da indiferença, a face da descrença que im pede de ver e de sentir o que se passa. O calor abrasa, o amor cria asas e abriga, sustenta e protege. Quanta gente já me tratou com frieza! Quanto religioso orgulhoso me viu e me ignorou. Por isto, a única pessoa em quem eu confio e a quem eu busco é Jesus. O golpe é duro, é inacreditável servir por tanto tempo e depois não "servir" mais. Muitos nos tratam como se fôssemos objetos frios e indiferentes, mas somos crentes, somos ovelhas e Jesus é o nosso Bom Pastor. (João 10) 17-09-2019.

CADA UM, CADA UM Cada macaco no seu galho, cada sapo na sua lagoa, cada índio na sua oca, cada tatu na sua toca, cada história no seu livro, cada livro na sua estante, cada beijo na sua boca, cada tapete na sua porta, cada bode na sua horta, cada estrela no seu céu, cada abelha com o seu mel, cada feijão na sua panela, cada trinco na sua janela, cada fivela na sua cinta, cada feijão na sua marmita, cada peixe no seu anzol, cada menino na sua estradinha, cada gato na sua caminha, cada porco no seu chiqueiro, cada galinha no seu terreiro, cada cabrita comendo o seu milho, cada pai educando o seu filho, cada crente na sua igreja, cada um com a sua cerveja, cada vida com a sua lida na chegada ou na partida esteja onde esteja. Cícero Alvernaz, autor. 17-09-2019.

ESQUECI DE ME LEMBRAR O tempo passou e levou as lembranças como a água leva a areia e o riso leva a cara feia, como a vida leva o sonho, como o sonho leva a vida, como o vento leva as folhas, leva tudo, leva a flor, como o ódio leva o amor. Esqueci meu endereço, esqueci e depois paguei o preço, tive que voltar, mas não achei o rumo de casa. Fiquei por aí vagando minha casa procurando, mas não achei meu ninho. Fiquei assim sem opção, o mundo percorri sem direção como um menino sozinho. Cícero Alvernaz, autor, 15-09-2019.

CALOR E VENTILADOR Com este calor só se fala em ventilador. Mas o ventilador não fala com a gente e nem liga, não compra a nossa briga contra o calor. O máximo que ele faz é ficar girando acima da nossa cabeça no teto, ou de lado espiando a gente e girando preguiçosamente. Agora o ventilador está super valorizado e é procurado e ligado por todo lado. Mas o calor dá risada ao ver o nosso desconforto e a nossa aflição diante de um calor de quase 30 graus. Até para escrever está  difícil, a cabeça está mole, o raciocínio não existe ou está lento, não bate nenhum vento, só o ventilador e o suor que escorre na testa e desce pelo corpo. Não quero exagerar, mas hoje está exageradamente quente. Está tão quente que nem dá para continuar, sob pena de derreter a cabeça e o corpo virar uma geleia. Enquanto isto, o ventilador dá risada ao ver a nossa cara desesperada. Não consigo escrever mais nada. (16-09-2019)

ENVELHECER Envelhecer é um privilégio, é uma sorte, é driblar a morte e sobreviver aos ataques do dia a dia. Envelhecer é um dom, é um momento bom, é um momento de amor, de olhar pelo retrovisor e rever o passado que ficou para trás. Envelhecer é motivo para agradecer todo dia a paz e a alegria recebidas da mão divina como um presente caro, lindo e especial. Dizem que depois dos 60 estamos entrando na velhice, na terceira idade e começamos a sofrer com "as doenças da idade".  Mas a alegria é o remédio contra o tédio que muitas vezes nos quer derrubar. Passear, dançar (para quem gosta) e sobretudo caminhar são boas alternativas para vencer o cansaço que muitas vezes nos acomete. É um despertamento, um alento, um momento de vida, prazer e de fé. Envelhecer, enfim, é um privilégio, é um voltar no tempo, é recordar, é amar e valorizar a vida sempre mais a cada dia. Envelhecer é viver com amor e alegria. (16-09-2019)

ISTO FAZ PARTE DO MEU VIVER Se eu escrevesse preocupado se ia ser lido ou rejeitado, se ia ser amado ou odiado, se ia ser criticado ou elogiado eu jamais escreveria porque seria correr um risco, lutar em vão e gastar por nada a minha inspiração e ainda ia correr o risco de ser alvo de crítica e zoação. Não ia valer a pena passar por este vexame e perder o meu tempo com pessoas que mal sabem assinar o nome. Mas eu escrevo com um objetivo, escrevo porque estou vivo e sou cativo da minha escrita, da minha arte que espalho por toda parte. Escrevo porque gosto de escrever e sei que sempre tem alguém que gosta de ler. Escrevo, e isto faz parte do meu viver. (15-09-2019)

FÁCIL E DIFÍCIL É fácil ser bom, basta não ser ruim, amar e não odiar, falar bem de alguém e não falar mal. Pensar em coisas boas, coisas que atraem, edificam e ficam na mente, nos olhos e no coração. É fácil ser bom, basta não ser ruim, não maltratar as pessoas, não ser desordeiro, nem fuxiqueiro, ser discreto, correto e não ser fofoqueiro. Parece fácil, mas às vezes é difícil. Sim, é difícil quando a pessoa não quer, ou acha que não vale a pena. Tem gente que diz: "Eu faço o bem  e só recebo o mal em troca". Receber o mal em troca pode ser um aprendizado, embora não seja algo bom. Tem coisas que realmente são difíceis, mas tem a sua recompensa. Nem sempre o que é fácil é o melhor. Jesus falou da porta estreita e disse que essa porta é a que nos conduz à vida eterna, ao passo que a porta larga e o caminho espaçoso é que nos conduz à perdição. É fácil ser bom, é fácil viver assim e depois deitar e dormir com a consciência tranquila. Não sei por que escrevi isto, mas deve ter

DRUMMOND, MEU PATRONO Li em uma entrevista que Carlos Drummond de Andrade quando era criança não gostava de livros com figuras ou gravuras, mas quando lhe davam um livro com letras e palavras ele se divertia e ficava conversando com aquelas letras e às vezes as desenhava num papel. Um gosto estranho para uma criança "normal", mas para Drummond aquilo era muito normal. Depois vemos a trajetória do grande poeta, cronista e literário que é considerado por muitos, inclusive por  mim, o maior de todos. Sei que pode não soar muito bem nos dias de hoje, mas para mim é um achado, uma festa que eu não dispenso, mas curto, amo e muito me envaidece, afinal Drummond é mineiro como eu e, guardadas as devidas proporções, temos o mesmo gosto. Não preciso dizer que amo as poesias de Drummond, e quando fui escolher um patrono para mim na Academia Guaçuana de Letras, não pensei duas vezes: Cadeira número 19, patrono Carlos Drummond de Andrade. Não poderia ter feito melhor escolha. Na época eu