Cícero Alvernaz

      DO QUE VOCÊ MAIS GOSTA? Tem dia que eu não gosto de nada. Nem se eu olhar no espelho eu vou gostar de alguma coisa. Mas aos poucos eu vou me soltando e vou me gostando e gostando da ideia de gostar. A partir daí eu mudo a marcha, dou mais velocidade ao carro da vida e começo a gostar até daquilo que eu não deveria. Parece um milagre isto, mas milagre só quem faz é Cristo. Gosto tanto que acabo desgostando de algumas coisas. Gosto de uma formiga, de um passarinho no ar, de um cão a ladrar e mais ainda de uma criança a brincar. Encontro pessoas estranhas e gosto delas, mesmo elas não gostando de mim e vou caminhando assim, gostando de todos e gostando ainda mais de mim. 26-07-2021.

     A ÚNICA VEZ QUE EU FUI AO MINEIRÃO No ano de 1983 eu fui com um primo ao Mineirão. Fomos ver o clássico maior de Minas pelo campeonato mineiro no ano em que o Galo foi hexacampeão mineiro. Tinha 33 mil pessoas no estádio e a maioria, como sempre, era de torcedores do Galo. Embora o meu primo torcesse pelo outro time, nós ficamos no meio da torcida alvinegra. Aos 3 minutos o outro time fez um gol numa falha clamorosa da defesa do Galo. Meu primo cochichou: "Eu sou pé quente", eu disse baixinho: o jogo só está começando. Para encurtar a história, o Galo ganhou de 3 a 2 sem jogar um grande futebol e sacramentou o hexacampeonato. Um dos destaques foi o jogador Éder, o melhor jogador que eu já vi jogar. Ele era tão bom que chegava a zombar dos jogadores cruzeirenses. Ele ás vezes parava a bola e chamava o adversário para brincar de "joão bobo". No final, tudo terminou bem e o meu primo saiu do estádio caladinho. (27-07-2021)

  UM TÍPICO MINEIRO Nunca fui de pegar um cavalo no pasto, montar e sair todo garboso como quem ganhou um beijo. Eu mexia mais com os cabritos e as cabras, além de levar lavagem pros porcos e olhar no ninho pra ver se a galinha tinha botado aquele ovo para o meu almoço. Nunca fui de nadar em rio profundo, mergulhar e sumir por alguns segundos. Nunca fui de muitas peripécias e aventuras. Meu mundo era mais de meditação, desenhar alguma coisa, fazer algum verso, depois andar pelo pasto, sentar num cupim e ficar olhando a distância que se perdia. Eu era e sou um típico mineiro, muitas vezes sem eira nem beira. Gostava de observar o tempo, as nuvens, o pôr do sol e o revoar das aves em busca do seu ninho. A partir daí eu li poesias de vários autores até que me aventurei pelos caminhos do verso. E hoje é esse o meu universo. Este é um universo de muitos contos e algumas criações, sempre voltadas para o palpável e também para o inexplicável. Coisa de mineiro intimista que já nasceu artista.

      É PRECISO CONFIAR Confiar é ter confiança como tem uma criança nos braços da mãe, ou do pai. A gente deve confiar quando vem e quando vai, quando levanta e quando cai. Confiar é bom, é até um dom, uma qualidade, seja na roça ou na cidade, seja em qualquer idade. Confiar em alguém, mesmo que não o conheça muito bem, mas isto está difícil hoje em dia. Alguém já disse: "Se a gente confiar em Deus já está de bom tamanho porque hoje não dá pra confiar em mais ninguém". Muitas vezes a gente não confia mais nem na gente, mas, eu repito, acredito, e vou de novo falar: É preciso confiar. 28-07-2021.

  AGRADECER A gente deve agradecer pelo que tem e até pelo que não tem. Agradecer pelo que vai e pelo que vem. Agradecer pela noite, pelo dia, agradecer pelo verso e pela poesia. Agradecer por tudo, sem nenhuma distinção. Agradecer pela paz, pelo carinho e pela emoção. Pelo cunhado e pelo irmão, pelo arroz e pelo feijão. A gente deve agradecer por tudo que tem, estando alegre, ou triste também. 28-07-2021.

  INCONVENIENTE Inconveniente é quem não convém, é quem não é conveniente. É alguém que chega e não sabe se comportar devidamente, uma pessoa atrapalhada e inconveniente. Quando eu vou a algum lugar sem saber ao certo como me comportar procuro ser o mais discreto possível para evitar alguma gafe, mas às vezes escapa alguma coisa. Já fui a alguns lugares chiques onde se deve seguir os protocolos e se deve "abrir a boca só quando tiver certeza". Confesso que não foi fácil, mas pelo menos não fui inconveniente. Mas existem pessoas inconvenientes. Isto é mais comum onde há bebedeiras e outros exageros. Em ambientes sadios tudo é mais conveniente e apresentável e a tendência é se ter um ambiente mais limpo e com um nível bem melhor. Já vi certas inconveniências que praticamente estragaram o ambiente. Na verdade, nem gosto de lembrar. (28-07-2021)

 T ODOS OS SONHOS NÃO CABEM NUMA ÚNICA NOITE Desculpa se eu escrevo muito, mas é que os assuntos borbulham na minha cabeça e eu tenho que coloca-los em liberdade e a única forma de fazer isto é escrevendo. Você não é obrigado a ler, mas bem que podia me dar essa honra e essa satisfação pessoal. Não estou implorando, estou só, humildemente, pedindo. Brincadeiras à parte, escrever é muito bom. Metaforicamente falando é como um parto, pois na escrita também se dá a luz a ideias, conceitos, opiniões e até humor. Escrever é como dançar, mas na escrita a mente age e trabalha mais do que na dança. O corpo também se mexe na entrega incondicional às letras que formam o texto. Ainda hoje temos muitos e bons escritores, mas os melhores, sem dúvida, foram os mais antigos. Pelo menos, os poetas daquele tempo eram bem melhores. Cada poesia no seu tempo, afinal, todos os sonhos não cabem numa única noite. (29-07-2021)

  ESTÁDIO DO GALO Eu estava vendo um vídeo no Youtube a construção do estádio do Galo em Belo Horizonte e fiquei imaginando quanto trabalho e quanto dinheiro é gasto na construção de um estádio desta grandeza. Eu nem sei quantos milhões, talvez mais de um bilhão de reais. Com certeza, tem alguma grande empresa custeando aquela obra e, logicamente, depois vai usar alguns espaços para fazer a sua propaganda. Nenhum clube, com verba própria, consegue construir um estádio, só se for um campinho em algum subúrbio. O Clube Atlético Mineiro, que no mês de março completou 113 anos de fundação, é considerado um dos maiores e mais populares clubes de futebol do Brasil e até do mundo. Portanto, vale a pena todo esse investimento, afinal o futebol é o esporte mais popular do Brasil. (29-07-2021)

 ISTO ACONTECE TODO DIA U ma pessoa se sentiu mal, foi levada para o hospital, foi medicada e dormiu, ou praticamente desmaiou. Logo depois sonhou que estava no céu, viu anjos e alguns objetos estranhos, ouviu músicas, viu um lago, árvores frondosas e carregadas de frutos. De repente acordou, ou foi acordada, mas já estava em outro lugar rodeada de médicos, paramédicos e enfermeiros. Não entendeu nada, estava incapaz de raciocinar. Logo depois dormiu de novo e sonhou, mas o seu sonho era mais real, era como se estivesse num lugar conhecido, encantador e ali sentiu que era o seu lugar, pois se identificava com tudo que via e tocava, tudo lhe era muito familiar. Não acordou mais e então descobriu que tinha morrido e estava no paraíso. Ali viveu e foi feliz por toda a eternidade. "São felizes aqueles que desde agora morrem no Senhor". (Apocalipse 14.13)

 QUAL É A NOSSA ARMA? D avi enfrentou o gigante Golias com a sua arma. Não importa qual era a sua arma. Cada um de nós temos uma arma, não importa qual seja a nossa arma, o importante é o efeito dela quando a usamos. Davi usou bem a sua arma, a sua funda, com a qual atirava em animais carnívoros que vinham matar e comer as suas poucas ovelhas. Davi usou a sua arma contra o gigante filisteu e o derrubou por terra porque ele não confiou apenas na sua arma, mas, sobretudo, ele confiou no Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel. O mais importante não é a nossa arma, seja ela qual for. O mais importante é a nossa confiança no Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel. (30-07-2021)

  DECEPÇÃO O que mais existe na vida é decepção. São tantas decepções que a gente até se acostuma a "levar porta na cara" e quando bate na porta já sabe que ela dificilmente vai se abrir e se abrir logo será fechada e a gente ouve: "Hoje eu não quero nada, passa outro dia". Ser decepcionado, ou decepcionar alguém é a coisa mais comum e mais fácil que existe hoje em dia. Tem dia que a gente já acorda e levanta decepcionado, muitas vezes com a gente mesmo. A gente se decepciona muitas vezes com aquilo que fazemos ou deixamos de fazer. De decepção em decepção a vida vai tomando um rumo estranho, sem rumo e sem volta. Muitas vezes, a única coisa que nos resta é sentar e chorar. Pior é quando não temos força sequer para chorar. Nesse caso só nos resta olhar para o alto e pedir a ajuda divina, pois esta é a única que ainda nos resta. (30-07-2021)

  O QUE FAZER NUMA NOITE FRIA? O que fazer numa noite fria? Na verdade, não temos nada a fazer a não ser procurar se aquecer. Lá em Minas todo mundo ficava na beira do fogão todo agalhado e esfregando as mãos. Alguém acendia um fogo lá fora com palha de milho, sabuco e lenha, mas a fogueira também não dava conta. Nada resolvia o problema da noite fria, pois a gente não se aquecia. 30-07-2021.

  SOB MARQUISES Os que dormem na rua sob marquises não dormem, não vivem, apenas sobrevivem. A noite fria é um castigo, um perigo, para quem está exposto ao frio, ao vento, e ninguém ouve o seu lamento nesse triste momento. Os que vivem, ou sobrevivem ao relento, ou sob marquises são árvores sem raízes, homens de vários matizes cuja vida ferida e perdida paira exaurida sem ter a quem recorrer. Seu destino, seja homem, ou menino, é morrer. 30-07-2021.

  EM MINAS É ASSIM Em Minas, visita é "gente de fora", parente é "gente de casa", desconhecido é "estranho", vizinho é quem mora "pertin daqui" e às vezes nem é tão perto assim, pois mora "depois do morro passano a tronquera cê entra a esquerda e logo vai dá lá". E às vezes para chegar lá ainda tem que andá mais um bocado. Eu tinha uns parentes que moravam na roça e quando eu ia lá andava uns 8 quilômetros a pé numa estrada ruim e para encurtar caminho eu tinha que descer uma pirambeira, atravessar numa baixada, pular um rio, subir num barranco para poder sair do outro lado depois de atravessar uma cerca de arame farpado para poder pegar a estrada principal e seguir o caminho. Eu tinha que torcer para não encontrar ninguém senão o papo esticava e eu ia chegar lá só depois das seis da tarde. Mas valia a pena tanto esforço porque o pessoal me recebia muito bem, fazia até broa de milho pra mim quando eu chegava. Em Minas até hoje é assim,