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Mostrando postagens de janeiro 28, 2018
VIDA LARGADA Sem vontade de fazer nada, de olho comprido na estrada, ficar olhando o nada, só ouvindo a passarada, prestando atenção na porcada, sentado aqui na escada, pensando nos olhos da amada, preocupado com a boiada, sem vontade de fazer nada, só ficar olhando a passarada, de olho comprido na estrada, cuidando da minha porcada, sentado na velha escada, com saudade da amada, preocupado com os bois na invernada, olhando quem vem na estrada sem vontade de fazer nada... Oh que vida mais largada! Cícero Alvernaz (autor) 03-02-2018.
ESPERANDO... Esperando a esperança, esperando a criança chegar da escola, esperando alguém dar a esmola, esperando rolar a bola, esperando o sinal abrir, esperando a menina sorrir para bater a foto, esperando passar a moto com seu ruidoso barulho. esperando a caçamba de entulho, esperando o almoço, esperando a janta, esperando o café, esperando uma palavra de fé, esperando o leite, esperando o azeite, esperando o galo cantar no meio da madrugada, esperando a rapaziada que virá fazer um show, esperando alguém que saiu e ainda não voltou, esperando a namorada tão linda e tão esperada, esperando abrir a igreja, esperando a cerveja, esperando um carro novo, esperando a galinha botar o ovo, esperando alguém, mas ainda não sabe quem, esperando o trem, esperando nenem para o mês que vem. Cícero Alvernaz (01-02-2018)
IMAGEM MINEIRA Imagem mineira tem beleza e simplicidade. Lembra velhos tempos de pó e de vento varrendo tudo. Conversa arrastada que nunca termina, simplicidade, beleza e humildade. Lembra gente olhando da janela, lembra poesia que se vê e se ouve na tarde tagarela. Faz emergir o sonho e o som por entre as folhas do velho quintal. Minas é mistura, é alma pura, é a vida envolvida com seu jeito sem igual. (01-02-2017) Cícero Alvernaz (autor)
FICA CALMO Fica calmo, a tormenta passa, a fumaça passa, passa o trem de carga, passa o trem de passageiros, passa o vento em sua pressa, passa o que nos interessa, passa o ódio, passa o riso, o inferno, o paraíso, passa a água no seu leito, passa o aperto no peito, passa o amor desfeito, passa o homem com seu jeito, qualidades e defeitos. Fica calmo, a tristeza passa, passa o bêbado e a cachaça, passa o livro, passa a traça, a poeira na vidraça. Fica calmo, amanhã é outro dia, semeia a tua poesia, busque amor e alegria, pois a vida também passa. Cícero Alvernaz (autor) 31-01-2018.
MINHA DECISÃO Não vou escrever mais, não vou me manifestar mais, não vou questionar mais, não vou poetizar mais, não vou mais ocupar o meu tempo com essas incursões, gerando discussões sobre questões tantas que existem por aí. Não vou escrever mais, já escrevi demais, já escrevi centenas, talvez milhares de poemas que estão por aí, alguns já foram lidos e relidos, outros estão esquecidos, perdidos em algum porão, ou, quem sabe, em algum coração. Não vou escrever mais, essa é a minha decisão. Cícero Alvernaz (autor) 30-01-2018.
ESPERANDO O TREM PASSAR Esperando o trem passar para poder atravessar. Mas o trem não vem, não passa, fico nervoso e depois até acho graça, mas o trem não passa e eu não posso atravessar antes do trem passar. Vai que ele vem na hora, me atropela e me mata, como que eu vou explicar a minha falta de paciência lá em casa? O trem de Minas não é só um trem desses que andam na linha: é um trem bom de ver e até de comer, de lamber, de pegar, de usar e de se admirar. O trem de Minas  é um trem diferente que a gente imagina: o olhar de uma menina, uma flor pequenina se abrindo de manhã... Estou esperando o trem passar para poder atravessar a linha. O trem está demorando muito, mas eu não posso atravessar antes. Vai que ele vem na hora, me atropela e me mata, como que eu vou explicar a minha falta de paciência lá em casa? É melhor esperar mais um pouco, pois esse trem é louco e já matou muita gente e pode vir de repente e também me matar. (30-01-2018)
ELOGIOS Cara pálida, mostrengo, palhaço, zé ninguém, capacho, fi duma mula, infiliz, cascudo, zé ruela, perneta, baitola, bode véio, cachaceiro, manguaceiro, corno, maricas, sonso, retardado, porco, safado preguiçoso, cagueta, careca, bola sete, joão bobo, moleque, petista, cachorro, chato, fulera, borra botas, zero à esquerda, morcego, lerdo, fi do cão... Isso tudo eu já ouvi, mas não sou nada disto não. 28-01-2018.
CASA DESARRUMADA Um vidro quebrado, um prato mal lavado, uma vassoura esgarçada, uma banana amassada, um leite "quase azedo", um cãozinho com medo, uma criança "molhada", uma geladeira sem água gelada, uma bicicleta sem freio, um cavalo sem arreio, um pão cortado ao meio, mas dentro não tem recheio, uma faca cega, enferrujada, uma xícara quebrada, um garfo sem cabo, um vidro sem tampa, um ovo quebrado sujando a geladeira, um sofá rasgado, cozinha sem bule ou chaleira, vizinhança fofoqueira, vendedor de porta em porta, uma enxada torta sem cabo e sem corte, uma cama desarrumada, uma televisão quebrada, isso tudo a gente encontra numa casa desarrumada. Cícero Alvernaz (autor) 28-01-2018.