Cícero Alvernaz

SONO LEVE Passeia no campo se senta debaixo de uma árvore, respira o ar puro da manhã, olha o céu sem nuvens, se imagina flutuando em busca de um verso. Descansa o corpo cansado, faz na relva sua cama, pensa em alguém que ama, dorme um sono leve, acorda com o sol mais quente, olha de novo o céu. Pensa na jornada do dia, quanto ainda falta pra chegar? Sente um perfume de flor, sente a presença do amor, viaja em seu pensamento, levanta e sonha acordado. Passeia no campo, vê o campo que se perde, se envolve na distância, calado pensa em Deus. Chora, está longe de casa, e seu coração no peito abrasa. Cícero Alvernaz (autor) 16-04-2016.

VOCÊ Você me machuca sem querer, sem saber e sem entender. Estás presente em meu pensamento, estás comigo a todo momento em forma de rio, em forma de mar, estás nos versos da minha poesia, no calor e na pressa do meu dia, no meu olhar perdido e sem destino, no meu jeito de homem e de menino, na minha pressa, na minha calma, no que está dentro de minha alma, no meu sorriso, no meu aconchego, no meu apego, no meu desapego, quando saio e quando chego, quando me leio e quando me releio, quando me deito e quando me vou. Você me machuca sem querer, sem saber e sem entender, mas compreendo e me rendo, pois sei que isto faz parte da minha vida, do meu viver. Cícero Alvernaz (autor) 16-04-2016.

A MOÇA DO SORVETE Com este calor que sufoca tanto a gente, é preciso se virar, é preciso refrescar. Com este calor que é tão abrasador um sorvete vou tomar. De repente vejo alguém que me atrai com seu olhar, com seu jeito de menina, um sorvete a chupar. Sinto um ar refrescante e paro por um instante, mas não sei o que falar. É a moça do sorvete que me olha com seu jeito, sinto meu corpo tremer, mas me sinto satisfeito. Nessa hora tudo flui e meu corpo não resiste ao convite que foi feito. Cícero Alvernaz (autor) 13-04-2016.

DIA DO BEIJO Dizem que hoje é o dia do beijo. Não existe o "dia do beijo", pois o ato de beijar por si só não se resume a um dia especial, preparado e carimbado como tal. Beijar dispensa comentários, diários, dicionários e vocabulários. Não está resumido a um dia ou a uma noite. Beijar é momento, alento, entretenimento, querer e prazer. É bom beijar a pessoa amada, indicada, desejada como se fosse caminhar numa estrada que nos leva, sem juízo ao paraíso. Dizem que hoje é o dia do beijo, mas isto não significa que devo beijar só hoje, ou que os beijos de hoje tenham que ser diferentes. Para beijar não há dias, nem horas; são momentos que acontecem, desabrocham, coincidem, se abrem e nos fornecem o grande prazer de beijar e de ser beijado. Cícero Alvernaz (autor) 13-04-2015.

DIA DE TUDO Tem dia de tudo: dia do careca, dia do cabeludo, dia da briga, dia da rapariga, dia do desejo, dia do beijo, dia do doce, dia do queijo, dia da fruta, dia da luta, dia do Fico, dia do Francisco, dia do Atlético, dia do hipotético, dia da chuva, dia da luva, dia do peão, dia do alçapão, dia do padre, dia da comadre, dia do Jeca, dia da boneca, dia do Jipe, dia da gripe, dia do coronel, dia do pão de mel, dia da seringa, dia da pinga, dia do alho, dia do espantalho, dia do Clínico, dia do cínico, dia do anão, dia do feijão, dia do feio, dia do alheio, dia do pó, dia do mocotó, dia da latrina, dia da cantina, dia do abraço, dia do amasso, dia da luz, dia da cruz, dia da espada, dia da Bíblia Sagrada, dia dos crentes, dia dos ateus, só não tem o dia de Deus. Cícero Alvernaz (autor) 13-04-2016.

VIDA NO SERTÃO Um sapato velho, uma bota, uma enxada, um corote pra por água, uma foice, um facão, uma pequena espingarda, um martelo, um lampião, um arreio, um machado, um cinto e um cinturão. Uma égua, um cavalo, um burro de estimação, um carro de bois na estrada, uma porteira e um portão, um sorriso de manhã com amor e emoção, um olhar de quem deseja, de quem ama de paixão. Uma roça bem plantada já perto da floração e uma companheirada com a enxada na mão, uma noite de viola, de sanfona e violão, uma morena bonita entoando a canção... É assim que é a vida, doce vida no sertão. Cícero Alvernaz (autor) 11-04-2016.

JEITINHO DAS MINEIRAS Em Minas, chamar alguém de bobinho é um tratamento carinhoso e um elogio. E as mineiras falam isto com tanta propriedade que chega a ser piegas. Mas não é. É uma forma carinhosa, um jeitinho mineiro de se referir a alguém. Bobinho, tadinho, são expressões carregadas de afeto e carinho que enchem o ar de bondade e meiguice. É a mineirice em profusão, o chamego, o aconchego, o desapego oriundos das Gerais. E tem mais: tem o olhar que diz muito e observa tudo, tem o jeitinho de falar e de se identificar com a outra pessoa. Tudo isto vem no bojo de Minas, de suas lindas mineiras. Cícero Alvernaz (autor) 10-04-2016.

As pessoas normalmente gostam de falar em Deus, em Jesus e até no Espírito Santo (que são a mesma Pessoa, ou seja, é uma unidade composta). Mas quando alguém começa a falar na Bíblia, o famoso "livro da capa preta" aí o assunto muda. A pessoa já começa a pensar que é religião, proselitismo e dá as costas assim que acha uma brecha. Por que falar da Bíblia é algo tão evitado por tantas pessoas? A Bíblia é quem nos revela as Três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, nos revela  o Verbo que se fez carne a habitou entre nós (João capítulo 1). Mas muita gente tem medo de falar e até de carregar a Bíblia. Por outro lado, elas falam de Deus e até dão-nos a ideia de serem conhecedoras da Bíblia. Quer fazer um teste? Experimente falar da Bíblia para alguém e você vai ver e sentir o resultado: A pessoa vai sair de fininho, pois a Palavra é uma espada afiada que corta. (Hebreus 4. 12). Cícero Alvernaz (autor) 10-04-2016.

ESTÁTICO Fiquei estático depois de estar acrobático, venturoso e matemático, mas depois fiquei apático, talvez até aromático, e, como sempre, enfático e um pouco diplomático por um motivo fático, por um esquema tático, até mesmo problemático. Fiquei estático e perdi o dom da rima que sempre me ajuda, socorre e ensina, nesta minha obra prima que estou tentando escrever. Fiquei estático e também enigmático tanto quanto problemático, também fiquei emblemático sem saber o que fazer. Cícero Alvernaz (autor) 10-04-2016.

QUANDO O AMOR TOMA CONTA Quando o amor toma conta muita gente fica tonta, mas depois se desaponta, perde o jeito, perde a cor. Se alarma, se desarma e chora por causa do amor. O amor não marca hora, vem e depois vai embora, e a gente sofre e chora e não sabe o que fazer. De repente tudo muda, dá vontade de morrer. Quando o amor toma conta a gente cai e desmonta, leva tudo como afronta, vai pra longe, se revolta. O mundo fica escuro - fica sem ida nem volta. Cícero Alvernaz (autor) 10-04-2016.