Cícero Alvernaz

O DELATOR Joaquim Silvério dos Reis foi o primeiro delator de que se tem notícia. Ele delatou (entregou) os seus companheiros na luta contra a Coroa Portuguesa que explorava o ouro do Brasil no século 18. O Traidor, como ficou conhecido, conseguiu o seu intento e os seus companheiros foram punidos e condenados. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, recebeu a pena máxima: foi condenado à morte e foi enforcado no Rio de Janeiro no dia 21 de abril de 1792, portanto, há 225 ano s. Os demais tiveram penas mais leves: foram presos ou deportados para a África. Hoje, os delatores são quase heróis, mas, muitas vezes, são desacreditados, pois seus depoimentos bombásticos carecem de provas e, geralmente, são rechaçados pelos delatados. Essa é uma das razões que Lula continua solto e aprontando as suas. Mas vamos falar de coisa melhor, vamos falar de Tiradentes, esse sim, um verdadeiro herói, embora muita gente afirme o contrário. Mas todo herói tem o seu lado vilão. (21-04-2017.

BEIJO DA POESIA Eu fico aqui pensando em você aí, mas esse pensamento é só meu. Pensar é bom, ninguém escuta, ninguém me interrompe, nem me chateia, eu penso em quem eu bem quiser, ninguém pode me proibir de pensar em mulher, ninguém me corrige, nem faz cara feia. Eu fico aqui pensando e pensando... Tenho medo de pensar e depois tentar realizar. Meus pensamentos loucos são meus, eu penso em mim, em você e penso em Deus, e de tanto pensar acabo escrevendo e depois acabo lendo e relendo e às vezes choro lendo os versos meus. Eu fico aqui pensando em você aí, mas isto não traz você até aqui. Fico imaginando o seu mundo, seu brinquedo, tenho vontade de dizer, mas tenho medo, por isto penso toda hora, todo dia. Eu penso escrevo, invento, reinvento, e de repente sinto a presença do vento e entendo que é o beijo da poesia. Cícero Alvernaz (autor) 21-04-2017.

SONHO Sonho é algo subjetivo, mas tem gente que sempre se mete a interpretar sonhos. Eu tenho até medo de contar os meus sonhos, pois, geralmente, a pessoa quer interpretar. Então eu evito contar, pois sei que há muitos intérpretes de sonhos. Existem até livros que ajudam e ensinam essa arte milenar. Sonhos servem pra tudo e se sonha muito acordado, aliás, esse é o melhor sonho. E existe o sonho que se sonha junto, como escreveu Raul Seixas: "Sonho que se sonha só é um sonho  que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade". O sonho tem variações, momentos e até alucinações, mas sonhar é sempre bom. O sonho tem tudo a ver com o nosso subconsciente, pois é uma extensão do nosso dia a dia. O problema do sonho são os intérpretes. Pedro de Lara foi um dos mais conhecidos "intérpretes de sonhos" e muita gente leu os seus livros e acreditava piamente nele. E o Brasil, hoje, está cheio de "pedros de lara", afinal o que o brasileiro mais faz é sonhar. E

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO No princípio era o Verbo e o verbo se fez carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória, a sua luz e o seu poder, vimos a sua face, ouvimos a sua voz, ele andou entre nós, ele conosco falou, ele a muitos curou, paralíticos levantou, leprosos purificou, ele deu vista aos cegos, multidões alimentou. Ainda hoje ele anda e passeia entre nós, ouçamos a sua voz que é meiga e poderosa, olhemos a sua face tão linda e tão formosa. No princípio era o Verbo e o verbo se fez carne e habitou entre nós. Com amor e reverência e com muita paciência ouçamos a sua voz. Cícero Alvernaz (autor) 20-04-2017.

SENSIBILIDADE Sensibilidade, capacidade aliada à musicalidade, praticidade, capacidade para compor, para viver e enxergar com a alma, com o gesto, fazer um manifesto pela paz e pela união, uma forma de abrir o coração e deixar fluir a inspiração. Sentir uma presença intensa da poesia em pleno dia, algo que irradia e preenche o espaço num abraço à natureza colhendo a beleza do verso na palma da mão. Ser sensível, tocável, tangível, susceptível, incrível com as cordas, com as t intas, com as letras, criando, extraindo, retirando do fundo o ouro mais puro, chegando ao porto mais seguro deixando antever um futuro que, na verdade é um presente em todos os sentidos. Sensibilidade, vento que vem não se sabe de onde, onda de amor que traz de volta o bonde sobre os trilhos da vida e encanta com o seu brilho e a sua luz. O que dizer mais se tudo isto que foi dito ficou assim tão bonito? (18-04-2017)

CHÁ DE SUMIÇO Há pessoas que somem e somem de verdade. Não se trata apenas de uma brincadeira de esconde-esconde, trata-se de um "se esconder" verdadeiro e real. As pessoas aparecem do nada e também somem por nada, simplesmente porque desejam sumir, ou tomaram um chá de sumiço. Elas somem tão perfeitamente que eu seria capaz até de apostar que elas nunca existiram. Somem por capricho, viram pó de ouro ou lixo, desaparecem num toque de mágica e não adianta procurar e, na verda de, nem tem onde procurar. Há pessoas que somem, se escondem e, muitas vezes, sem nenhum motivo, sem nenhuma necessidade. Os dias passam e a pessoa não aparece, o dia escurece e a pessoa não aparece e às vezes nunca mais aparece. Fica apenas a lembrança no ar, numa palavra, num olhar, num sorriso, num gesto... E depois de muito tempo ela reaparece e diz: eu não sumi, eu estava dormindo. (18-04-2017)

VIDA NA ROÇA Sou do tempo em que a gente se sentava num banco de madeira ou mesmo num tamborete. A luz vinha de uma lamparina a querosene que pouco iluminava e poluía o ambiente. Sou do tempo da cisterna, da cacimba, do poço ou da bica d'água. O banheiro (quando tinha) era uma casinha com um buraco, e as portas do quarto eram uma cortina. Sou do tempo que o fogão era de lenha e custava pro fogo pegar, tinha sempre que assoprar, tinha até que abanar para a chama se alastrar. Sou do tempo do pilão em que a gente socava café e arroz. Sou do tempo que o pai chamava o filho pra ir ir pra roça. O pai levantava de madrugada preparava a sua enxada antes do sol nascer. E o filho ia junto falando o mesmo assunto, andando do mesmo jeito. Sou do tempo da humildade, diferente da cidade, tempo de simplicidade, tempo de mais bondade e também de lealdade. Sou do tempo que a vida era pura e que cada criatura tinha mais educação. Sou do tempo que a casa era palhoça, nasci e vivi na roça com meu

PERGUNTAS IRRITANTES Têm pessoas que fazem cada pergunta! São piores do que crianças nesse quesito. Pessoas curiosas que querem saber tudo e de tanto perguntar nos irritam. Eu, quando me deparo com pessoas assim, uso a minha arma infalível: a ironia. Por exemplo: quando me perguntam quanto eu ganho, normalmente eu respondo: ganho bem menos do que o Neymar. Uma das perguntas mais ridículas e também mais comuns é: você se casou virgem? Outros perguntam: quantos  anos você tem? A casa em que você mora é própria? E tem os por quês: por que você é assim? E eu respondo: é porque eu não sou assado. "Você é tímido?" e eu respondo com outra pergunta: o que você acha? Alguém um dia me perguntou se eu era romântico, talvez por causa das minhas poesias, e eu respondi: depende do dia, da hora, de onde eu estou, com quem eu estou... Assim como ninguém é poeta 24 horas por dia também ninguém é romântico o tempo todo. Resumindo: podem perguntar o que quiserem, mas eu só respondo o que eu qu

GOSTO DE SER ASSIM Gosto de ser assim, às vezes irritante, às vezes próximo, às vezes distante, às vezes calmo, às vezes esfuziante, às vezes livre, às vezes preso, às vezes apagado, ás vezes aceso, às vezes luz, às vezes cruz, às vezes chegada, às vezes saída, às vezes perdido, às vezes tolhido, às vezes partindo, às vezes voltando, às vezes sorrindo, às vezes chorando, às vezes falando, às vezes pensando, às vezes ligado, ás vezes concentrado, às vezes pedindo, às vezes repartindo, às vezes caindo, ás vezes levantando, às vezes inspirado, às vezes revoltado, às vezes querendo, às vezes dispensando, às vezes pensativo, às vezes ativo, às vezes pedra, às vezes tijolo, às vezes pão, às vezes miolo, às vezes sábio, às vezes tolo. Gosto de ser assim, mesmo que alguém não goste de mim. Cícero Alvernaz (autor) 17-04-2017.

ABRAÇO Desata o laço, dá cá um abraço, vem sem embaraço, na rima que faço ocupa o espaço, aperta o passo com desembaraço, eu quero seu braço formando um laço, assim eu me enlaço e aperto o compasso em forma de laço, dá cá um abraço, vem sem embaraço na rima que faço, no verso que traço com fé, sem cansaço. Cícero Alvernaz (autor) 16-04-2017.

CONTROVERSO Existe filho sem mãe, mas não existe mãe sem filho. Existe céu sem estrela, mas não existe estrela sem brilho. Existe carinho sem mãe, mas não existe mãe sem carinho. Existe noite sem lua, mas não existe lua sem noite. Existe alegria sem sorriso, mas não existe sorriso sem alegria. Tudo parece controverso, mas isto faz parte do verso. Cícero Alvernaz (autor) 16-04-2017.

ESTOU SOZINHO Ninguém está sozinho, mas eu estou sozinho. Estou totalmente sozinho como aquele barco no mar perdido que é por todos esquecido, como aquela pedra no meio do caminho, ou como aquele animalzinho que se desgarrou e sozinho ficou longe do caminho. Estou sozinho, ninguém está sozinho, mas eu estou sozinho. Nessa noite sem alegria e sem nenhuma companhia, sem amor e sem carinho eu estou sozinho. Estou sozinho com a minha poesia, com meu sonho, com meu sono, estou sozinho e pairo tristonho no meu abandono. Cícero Alvernaz (autor) 15-04-2017.