Cícero Alvernaz

TROUXA O que seria do mundo se não houvessem os trouxas? E quantas vezes alguém nos faz de trouxa! Já fui trouxa tantas vezes que daria para escrever um livro. E a gente só é feito de trouxa porque acredita em alguém. A dor que vem depois, a decepção, a revolta são grandes, mas nada resolve. Ser feito de trouxa é quando alguém "com a melhorar das intensões" usa a nossa bondade e boa fé para nos enganar, nos roubar de alguma forma e depois a pessoa some. Ficamos com cara de paisagem mal cuidada esperando o cumprimento da promessa, o pagamento da dívida e quando acordamos pra vida a pessoa em questão já está longe. Só então nos damos conta que fomos roubados, simplesmente fomos feitos de trouxa ou caímos em mais um golpe. Se não houvessem os trouxas também não haveria os "engana trouxa" e o mundo seria um paraíso. Cícero Alvernaz (autor) 23-04-2016.

PARENTE Parente, que coisa mais impertinente! Já ouvi alguém dizer que parente não é gente: é serpente. Por que será que tem gente que não gosta de parente? Parente implica co'a vida da gente, briga entre parente é coisa corrente. Tem gente que prefere um estranho a um parente. Nem sempre um parente é amigo da gente. Tem parente que é pior do que dor de dente. Dizem que é melhor ficar o quanto mais longe quando se é parente. Mas tem parente que é boa gente. Cícero Alvernaz (autor) 23-04-2016.

"VOCÊ CONCORDA?" Quando alguém me pergunta se eu concordo eu não tenho opção. Fico flutuando, buscando uma resposta, uma explicação. Já pensou se eu não concordar? A concordância, nesses casos, é um imperativo: ou eu concordo, ou eu não saio vivo. Então concordo de uma vez até para não perder o freguês. Já passei muito por esta situação: "Você concorda, sim ou não?". Claro, eu concordo - e às vezes ainda acrescento: em gênero, número e grau. Mas será que eu concordei mesmo? Quando saio, fico pensando no que fiz, penso na minha covardia, na minha passividade e fico com vergonha de mim e então eu me pergunto: por que eu sou assim? Cícero Alvernaz (autor) 23-04-2016.

SE VOCÊ GOSTA Se você gosta de poesia vamos falar do que existe. Na vida o que mais se vê é gente alegre e triste. Se você gosta de falar e tem tempo, eu converso. Iremos bem longe a pé: somente nós dois e o verso. Se você gosta de poesia, nosso tempo será suficiente. Veremos sonhos e nuvens sorrindo ao sol poente. Te convido a caminhar numa estrada colorida. Teremos poesias e versos para enfeitar nossa vida. Cícero Alvernaz (autor) 23-04-2016.

A COISA A coisa foi coisada, mas não ficou bem coisada, por isto logo descoisou. Quem coisou não coisou direito. Se coisasse bem essa coisa, esse trem, não tinha descoisado assim tão bem. Cícero Alvernaz (autor) 22-04-2016.

COMO SE FOSSE UMA FLOR Começo levemente,  sutilmente exploro cada pedaço por onde passo, depois me enlaço num abraço que nos une e nos pune e nos castiga,  te chamo de amor e de amiga, não faço intriga, mas te provoco, te toco e você se desmancha e se entrega e me pega seja onde for - eu te cheiro e te beijo com carinho e te desejo como se fosse uma flor. Cícero Alvernaz (autor) 

A MENINA DOENTE A menina doente Já não chora, já não grita, Fica calada somente, Não se mexe, não se irrita. Fica assim deitada E passa horas na cama Tão quietinha, calada, Que nem a mãezinha ela chama. A menina doente É um anjo de criança, Ninguém sabe o que ela sente Enquanto o dia avança. O vento lhe faz companhia E vem beijar-lhe o rosto Trazendo amor e alegria No meio de tanto desgosto. Os passarinhos na mata Entoam sua linda canção, E lhe fazem serenata Tocando o seu coração. Depois vem a enfermeira Trazendo o amargo remédio, A tarde passa sem pressa Aumentando o seu tédio. A menina então suspira Cheia de dor e saudade, Com dificuldade respira Cheia de amor e bondade. A menina doente Do jardim é a linda flor Que murchou tão de repente Mas ainda cultiva o amor. Cícero Alvernaz (Membro da Academia Guaçuana de Letras) Mogi Guaçu, 07 de janeiro de 2009.

CARINHO Bem levinho, quietinho, vem chegando o carinho, sem fazer um barulhinho pra não acordar o vizinho e nem assustar o bichinho que dorme no seu cantinho. Vem chegando, vem sozinho, vem chegando o carinho, pousa leve no seu ninho, sopra a brisa, o ventinho, bem levinho, quietinho, vem chegando o carinho... Quem não gosta de carinho, nem que seja um pouquinho? Passa a mão devagarinho massageia os pelinhos com seu jeito, seu jeitinho, quem não gosta de carinho vai viver sempre sozinho. Cícero Alvernaz (autor) 20-04-2016.

AINDA ESTOU POR AQUI Ainda estou por aqui matutando sobre a vida, aprendendo com a vida, escrevendo sobre a vida que é tão linda e tão querida. Ainda estou por aqui, não sei até quando estarei, não sei até onde irei com a minha teimosia, porém eu sei que um dia daqui me ausentarei. Ainda estou por aqui passeando em meu barquinho, caminhando em meu caminho, pisando em flor e espinho. Ainda estou por aqui, quase sempre estou sozinho. Mas um dia eu irei e daqui me ausentarei. Ainda estou por aqui, até quando eu não sei. Cícero Alvernaz (autor) 20-04-2016.

DEIXA EU FALAR! Deixa eu falar, cansei de só escutar e concordar com tudo. Deixa eu falar até quando eu me cansar, até quando eu ficar mudo. Quero desabafar, quero soltar o verbo, dizer o que está na garganta. Não quero apenas ouvir, concordar, me reprimir, sei que isto não adianta. Deixa eu falar, prestem muita atenção no que tenho pra dizer. Mas se ninguém me escutar vou continuar calado e vocês nunca irão saber. Cícero Alvernaz (autor) 18-04-2016.

O BRASIL SE CANSOU O Brasil se cansou de ouvir blá blá blá, foi pras ruas, gritou, se vestiu, encarou. O Brasil se cansou, se vestiu, se enturmou, resolveu se mostrar, se marcar, se unir, se voltar, exigir, se abrir, se tocar, e mostrar o seu jeito e dizer com seu jeito que assim não tem jeito: é preciso mudar. O Brasil se cansou de ouvir blá blá blá: resolveu se mostrar, resolveu encará. 18-04-2016. Cícero Alvernaz (autor)