GOSTO DE ISCREVÊ SOBRE O TREM

Vô iscrevê o que? "Iscreve um trem quarqué, inventa uma coisa boba, um trem tonto só pra passá o tempo e pronto". Num vô iscrevê sobre o trem, já iscrivi muito, acho inté que já isgotei o assunto. Mas trem num tem fim, ele passa, passa e nunca termina de passá na vida da gente. Já biservô isso? Quando parece que ele já passô ocê iscuta um apito e quando vê lá vem otro, mais é o mesmo, é um pedaço dele que tava iscundido numa curva. E ele vem balançano, parece inté que vai saí da linha e cumeça a passá de novo. O trem tem um jeito minero que ninguém isquece. Tem uma cantiga de trem, cantiga batida que istremece tudo. Eu tinha medo de trem, pensava que ele saía da linha e vinha correno atrais da gente. Quando eu ia travessá a linha ficava iscutano pra vê se ele tava vino pra podê travessá. Hoje eu sei que ele é manso e só anda pra frente, não anda de lado. Mas quando a gente é criança tem muito medo. Hoje eu ando de trem sem medo nenhum, eu até brinco com ele, agora sei que ele é manso. Eu num ia iscrevê sobre trem, mas eu gosto de iscrevê, é bom pra recordá a infância e a adolescência passadas lá em Minas, onde inté hoje o trem apita avisando que tá chegano e o povo fica alerta aguardano o momento de embarcá.
(04-01-2021. Cícero Alvernaz (autor)

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