MENINO ENGRAXATE
Era comum ver o menino engraxate
Com sua caixa e sua arte
Se oferecendo todo esperançoso:
“Moço, vai uma graxa caprichada?”
Quando alguém lhe acenava
Pedindo a sua presença e seu humilde serviço
Ele ia quase correndo
E prontamente abria a sua caixa
Da qual retirava seus objetos:
Escova, graxa, tinta, toalha...
Muito carinho e capricho
Para não decepcionar o freguês -
E, quem sabe, ganhar a sua simpatia,
E uns trocados a mais –
Afinal, é plantando que se colhe!
Era comum ver o menino engraxate
Com seu cheiro, seu jeito e sua arte.
Ele fazia parte da vida da cidade,
Estava sempre na praça,
E até os doutores se serviam dele,
Do seu humilde serviço
Enquanto comentavam algum assunto
Ou simplesmente divagavam para matar o tempo.
Era um tempo diferente.
Tempo em que as pessoas tinham tempo.
Entretanto, com o tempo o ritmo da vida mudou,
E hoje procuro o menino engraxate
Que perambula por aí sem rumo e sem destino.
Ele é uma sombra, uma vaga lembrança,
Alguém que, com sua arte e seu jeito simples de criança,
Estava sempre presente engraxando e escovando,
Dando brilho e beleza com sorriso e pureza,
E muita dedicação.
Por onde anda esse menino?
Cícero Alvernaz (Membro da Academia Guaçuana de Letras)
Mogi Guaçu, SP, 12-12-2008.

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