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CONFIDÊNCIAS DE UMA RUA
Dizem que eu sou uma rua morta,
uma viela perdida em um bairro pobre
sem luxo e sem pretensão.
Dizem sim, mas não é verdade!
Sou cheia de vida
e tenho muito pra contar.
Tem muitas histórias e fatos diversos
que aqui ocorreram
e minha memória guardou e gravou.
Sou formada por algumas dezenas de casas
onde vivem muitas pessoas
as quais fazem do seu dia a dia
uma rotina cansativa, às vezes engraçada,
mas sempre sofrida e cheia de carências.
Da criança em idade escolar
ao idoso aposentado
vejo todos os dias essa população
lutando com a vida
e buscando um mínimo de dignidade
e de independência.
Vejo o morador desempregado,
às vezes triste.
mas nunca desanimado.
Vejo a chegada do leiteiro,
do carteiro, do padeiro
e dos vendedores ambulantes.
Vejo também os "pregadores"
que batem de porta em porta.
Enfim, estou sempre espionando
o cotidiano das pessoas
que formam este mundo particular
e muito especial.
Por mim passam carros e pessoas,
além de animais.
Vejo tudo e anoto em meu diário.
Vejo, por exemplo, aquelas vizinhas fofoqueiras
que ficam diariamente no portão ou no muro
comentando não sei o que da vida alheia.
São pessoas, em geral, desocupadas,
que jogam conversa fora
enquanto os maridos trabalham.
E a vida pulsa por todos os lados
e o barulho reflete as múltiplas atividades
desse povo trabalhador e ordeiro.
Dizem que sou uma rua morta,
mas estou muito viva e atualizada com tudo.
Na verdade, eu não vivo sem as pessoas
e elas não vivem sem mim.
Sou mais que um simples ponto de referência
nesta grande cidade.
Sou um organismo vivo, pensante,
e tenho até nome.
Bem, o meu nome eu não vou dizer,
este segredo eu faço questão de guardar,
mas você pode me chamar
pelo nome que achar mais adequado.
Na intimidade eu sou apenas A SUA RUA.
Cícero Alvernaz (autor) 24-04-1997.

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Cícero Alvernaz
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