MENINO SÓ E SEM DESTINO

 Ele olhou tanto que até se cansou e seus olhos ficaram como que amortecidos, perdidos e lacrimejados. Um olhar que se manteve fixo, mesmo quando a distância era grande e quase não dava mais para ver. E quando não viu mais, encoberto por uma curva da estrada, ele continuou olhando na esperança de que ainda pudesse ver, pelo menos um vulto. Depois que se cansou se sentou, baixou a cabeça e chorou. Mas não era um choro de tristeza, um choro amargurado: era um choro de amor e de saudade como se olhasse um quadro que seria retirado depois da parede. Era a última vez que ele a veria, uma pessoa que ele amara desde a sua adolescência e por quem fizera um grande sacrifício, por quem viajou a noite inteira, várias vezes sonhando com o momento em que ia, finalmente, vê-la. Depois ele se levantou, se ajeitou, pegou um lenço e se enxugou. Olhou de lado, respirou fundo e saiu caminhando pelo mundo como um carente menino, só e sem destino. (11-12-2020)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POEMA DA LAVADEIRA

ZONA RURAL