A SOMBRA NÃO ME ASSOMBRA
A sombra não me assombra,
o rio não me assusta,
o medo não me atinge,
o mato não me fere,
a arma não me mata
o tempo não me cansa,
a flecha não me alcança,
o vento não me contagia,
meu som é som de poesia,
no telhado, no terreiro,
no quintal e no pesqueiro,
o chão é meu escudeiro,
meu amigo, meu parceiro,
minha escada onde piso,
motivo do meu sorriso,
minha estrada que me leva,
minha luz e minha treva,
meu sentimento, meu ai,
beleza que vem e que vai
nesta longa caminhada,
meu sonho, meu mundo,
meu tudo, meu nada,
pedaço de bem querer,
razão deste meu viver.

A sombra não me assombra,
o rito não me atrapalha,
meu sentido nunca falha
como um corte de navalha
tão preciso, tão doído,
que às vezes deixa perdido
quem por ele for ferido
num momento de descuido,
sem tempo pra respirar,
o mundo se vê acabar,
mas é preciso marchar
com todos os circunstantes,
ir com coragem avante
sem os embates temer.

A vida é este caminho,
me deixa às vezes sozinho,
mas o rio não me assusta
e o medo não me atinge,
meu coração sempre finge
que está forte, que está bom,
e eu sigo como posso
neste chão que é tão nosso
desenvolvendo meu dom.

Cícero Alvernaz (autor), 13-09-2015.

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