NEM TANTO AO CÉU, NEM TANTO Á TERRA

Volta e meia emerge o assunto igreja, ou igrejas e a discussão flui às vezes naturalmente. São tantas as vertentes, as opções e as confusões que a gente até se perde e fica sem saber o que fazer, o que dizer, acusar ou defender. Tem igrejas para todos os gostos e em todas elas tem pessoas que, se estão lá, é porque se sentem bem, ou tem algum interesse pessoal, moral, emocional ou financeiro para permanecer lá. Acredito que existe no Brasil milhares de diferentes igrejas por onde passam semanalmente milhões de pessoas, cada uma com o seu fardo, a sua dor. A igreja, geralmente, é um ambiente convidativo, aparentemente seguro e tranquilo. Local de oração, louvores, lágrimas e encontro com Deus e com algum amigo ou irmão. O que chama a minha atenção, sobretudo, e daí o título em epígrafe, são as diferenças entre as igrejas. Enquanto umas prometem o céu e a terra através da teoria da prosperidade, outras praticamente se fecham e mais parecem um velório sem defunto. O silêncio ás vezes é sepulcral. Outras, porém, fazem muito barulho, pessoas veem anjos, tochas de fogo, labaredas, falam em línguas e algumas até são arrebatadas em espírito. Tudo isto, além da dança e dos trejeitos, das palmas ritmadas ou não, do jeito agressivo de se dirigir ás pessoas e, principalmente, a forma de pedir, ou quase exigir dinheiro dos fieis. São as chamadas neo pentecostais, ou mesmo pentecostais avivadas ou tradicionais. Estive recentemente numa igreja considerada "reformada ou tradicional" e me senti muito bem devido à organização, educação e carinho com que tratam as pessoas. Quando cheguei, ajoelhei para orar e depois percebi que algumas pessoas estranharam esse meu gesto, que é uma atitude essencialmente bíblica. O oração lá é feita de forma individual e isolada e muitas vezes quase inaudível. Muito cerimonialismo e eu me lembrei das palavras de Paulo: "Ora, o Senhor é Espírito e, onde há o Espírito do Senhor, ali há liberdade" (II Coríntios 3.17). Me senti meio sem jeito, apesar de toda organização ali existente. Comecei a pensar em escrever algo sobre essas diferenças tão brutais que, evidentemente, são a razão de tanta divisão, de tantas igrejas que se digladiam entre si. E hoje a briga é feia, uma fala da outra, a outra fala da uma, uma defende o seu ponto de vista (até aí tudo bem) mas critica duramente a outra e leva o assunto, muitas vezes, para o lado pessoal e até moral. Me pergunto: onde fica a liberdade do Espírito nessa confusão, nessa batalha, nessa porfia, como se Deus e a Sua Palavra fosse objeto de propriedade de alguém. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. É preciso haver um meio termo. É preciso abrir um parágrafo e recomeçar o texto, a história, a crônica que se iniciou há mais de 2000 anos. Hoje, isto é impossível, pois há muitos interesses financeiros e políticos que pesam no dia a dia das igrejas. Conheço igrejas que se venderam á política partidária, se alugaram a partidos - é bom lembrar que no Brasil tem eleições a cada dois anos, ou seja, mal termina uma e já começam a pensar e se articular visando a outra. E isto é um prato cheio para pastores faturarem usando a sua liderança e os fieis como moeda de troca. Isto é uma vergonha, é um acinte, mas será que essas pessoas tem noção do que estão fazendo? Onde há poder e dinheiro, geralmente não há postura, dignidade e temor a Deus. Por isto muitas igrejas hoje não tem nenhum respaldo social, nenhuma credibilidade diante da sociedade, ou mesmo diante das demais instituições. Só a vinda de Jesus em glória para por fim a essa mixórdia e inaugurar um novo tempo com  "novo céu e nova terra, onde habita justiça". Por aqui, a tendência é piorar cada vez mais. Que Deus tenha misericórdia de nós!

Cícero Alvernaz (autor) 21-11-2017.

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