EU NÃO DEVO DIZER
Eu não devia dizer,
muitas vezes tentei dizer,
mas faltou-me coragem.
Pensei em dizer,
quase me decidi, mas calei-me.
Não foi fácil tomar essa decisão,
tem algo do coração,
tem algo da razão, da emoção,
tem de tudo um pouco,
de sóbrio, de santo e de louco,
de súbito, de sério, de mistério,
(sobretudo de mistério)
pois é algo escondido,
que nunca foi dito,
portanto nunca foi ouvido,
e nem sequer foi conhecido
ou talvez imaginado,
nada que ficou patente,
nada que ficou latente,
nada que se soube ou se cogitou.
Eu não devia dizer,
eu não poderia dizer,
muitas vezes tentei dizer,
mas faltou-me a coragem.
Mas eu devo dizer
o que pede o meu coração,
dentro desta vida, tão querida
e às vezes tão sofrida
não há mais nenhum segredo,
não há sonhos, pesadelos,
não há receios nem medo,
tudo está descortinado,
tudo está bem ampliado,
eu não devo esconder.
Só sei, porém, que eu não devo,
eu não devo dizer.
Cícero Alvernaz (autor) 21-02-2016.

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