ORGULHO FERIDO

Quando eu era criança
às vezes tinha vontade
de comer alguma coisa,
olhava, desejava,
e depois então pedia.
A pessoa fingia
que não me ouvia
e depois dizia: não.

Eu então me recolhia,
o meu choro engolia,
minha fome reprimia
e depois eu esquecia
ou simplesmente fingia,
pois, na verdade, eu queria.

A pessoa então me via
e depois compadecia
e o seu pão me oferecia,
mas eu, com meu olhar perdido,
e o meu orgulho ferido
também dizia: não.

Mesmo com fome tamanha,
eu com força e com manha
não aceitava o resto.
Assim eu sobrevivia
e por nada me vendia,
tinha orgulho e vergonha,
tinha caráter, juízo,
e com fé sobrevivia.

Não é porque quero e preciso
que vou aceitar a esmola
prefiro a vazia sacola
do que a comida negada,
pra mim era tudo ou nada.

Cícero Alvernaz (autor) 26-10-2015,

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