HOJE, AS ESCOLAS NÃO CONSEGUEM EDUCAR MAIS NINGUÉM

         “A educação vem do berço”. Quantas vezes já ouvimos esta frase pela vida afora - e hoje ela é mais real e verdadeira do que nunca. Na verdade, a educação é dever dos pais, da família, dos parentes e até da sociedade, mas nunca deve ser delegada somente à escola que já tem a difícil missão de alfabetizar os alunos. Se depender só da escola, certamente as crianças e os adolescentes vão continuar como estão hoje, podendo piorar ainda mais. Educação é, sobretudo, um dever dos pais.
         Acredito que em nenhum lugar do mundo nos deparamos com tantas pessoas tão mal educadas como existem hoje nas escolas. Em mais 28 anos de trabalho em escola pública já vi de quase tudo. E a cada ano as coisas só pioram – e eu costumo dizer que a tendência é piorar ainda mais.  O que grande parte dos alunos fala hoje para os professores, funcionários, coordenadores e até para os diretores se eu escrevesse aqui a chance de ver este texto publicado seria zero. Esses dias eu até comentei com alguém que eles falam palavrões que nem existem ainda, ou seja, eles criam palavrões como um poeta cria seus versos. É muita criatividade!
         A que triste situação chegou a nossa educação pública! Hoje, há muitos alunos que concluem o 3º ano do Colegial, se formam, e saem da escola “formados”, porém analfabetos. Alguém já me disse que eu sou saudosista, mas no meu tempo muitos alunos que se formavam na 4ª série davam aula e eram excelentes professores. Hoje, muitos alunos do colegial não conseguem escrever sequer um bilhete, mas muitos deles vão para a escola com o seu aparelhinho, seu fone de ouvido e seu celular, portanto eles devem ser bem informados. Houve uma ”regressão mental” somada a uma falta de interesse por conta da certeza de que hoje se passa de ano sem ter que estudar, com base na progressão continuada. O governo jogou no lixo a única arma eficaz de que dispunha, ou seja, a possibilidade de reter o aluno que claramente não quer nada com nada. Não dá para entender essa mudança que alterou substancialmente o aprendizado e o comportamento dos alunos.
         No rastro desta “moleza instituída” veio o problema do comportamento por conta da certeza da impunidade. A indisciplina hoje é algo normal e até incentivado. Afinal, o aluno precisa desabafar, xingar, chutar e depredar para descarregar a sua energia. Por conta disto, o professor raramente consegue dar aula, na maioria das vezes nem consegue abrir a boca na sala de aula. O aluno precisa extravasar, correr dentro da sala, chutar as carteiras e as cadeiras, fazer guerra de giz e de bolinhas de papel, jogar objetos no ventilador e quebrar a porta da sala. Não tem problema, depois o chaveiro arruma. Afinal, hoje as escolas pertencem aos alunos e sempre tem uma verbinha para consertar tudo. E como prêmio pelos palavrões, ameaças e depredações eles passam de ano com direito a uma bela festa de formatura. Eles merecem, pois o ano deles foi duro e muito puxado.
         Hoje, as escolas não conseguem educar mais ninguém. No máximo, o que elas conseguem fazer é humanizar e acalmar um pouco os alunos mais exaltados, separar as brigas rotineiras, ouvir os xingamentos e ameaças e pedir a Deus que tome conta do resto. A principal preocupação dos funcionários hoje é sair ileso da escola e zelar pela sua integridade física. No final, tudo dá certo. Todos saem formados e felizes. Infelizmente, isto é o que vemos hoje. É a modernidade, os tempo são outros. No fim, tudo dá certo: eles saem formados e todos nós saímos vivos, apesar de tudo.

         Cícero Alvernaz (Educador e Agente de Organização Escolar)
         Mogi Guaçu, SP, 21 de outubro de 2011.
        
        
        
        

         

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