SOU DESSE TEMPO
Sou do tempo que sorvete era picolé, do tempo que tinha bala de café e a gente andava muito a pé. Nem bicicleta quase que não existia, a gente andava de noite e de dia, às vezes sem nenhuma companhia, dava até pra escutar a ventania. Sou do tempo que se andava na garupa do cavalo e quando ele pulava um rego a gente quase caía. Sou do tempo do radinho e pilha, da vitrola, da viola e da caçarola que a gente comprava e comia. Naquele tempo quase não tinha televisão e algumas só tinha "chuvisco", mas era uma tentação. Tudo era atrasado, não tinha condução, às vezes só tinha trem, algum ônibus e carona num caminhão. Que triste situação! Mas a gente era mais feliz, não tinha medo de nada, muitos andavam armados e assim se protegia, mais respeito existia e quase não tinha ladrão. Podia deixar a casa aberta que ninguém mexia. Tinha mais sossego e mais alegria. Sou desse tempo, vivi nos anos 60, tomei café de rapadura, a vida era dura, mas era muito melhor. Hoje tem muito progresso, mas o mundo está desse jeito, não tem amor, nem respeito. Aquilo que era bom se acabou e hoje todo mundo é suspeito.
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