BAGUNÇADO
De uns dias pra cá
estou muito bagunçado.
Quarto com roupa suja.
livros sobre o guarda-roupa,
chinelos em cima da cama,
gavetas abertas a esmo,
já nem sei se sou eu mesmo,
se é que algum dia eu soube.
Saio lá fora, mas nada eu vejo,
não sinto paixão, não sinto desejo,
na verdade, eu só sinto desprezo,
vou ao portão e olho a rua,
percebo então que tudo continua,
não vejo nenhuma novidade,
não sinto dor, não sinto saudade,
não cumprimento o vizinho,
não consigo dizer palavras de carinho,
estou igual café quando esfria,
não consigo sequer dizer "bom dia",
se alguém me diz geralmente não respondo.
De uns dias pra cá
estou muito bagunçado,
cabelo em desalinho e o rosto amarrotado,
menino sem brinquedo, poeta com medo,
a vida sem viver e o tempo a correr,
isto é tudo que eu consigo escrever.
Cícero Alvernaz (autor) 07-12-2016.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POEMA DA LAVADEIRA

ZONA RURAL