O PREGADOR SOLITÁRIO
Alheio aos olhares curiosos e aos comentários ás vezes maldosos, o pregador solitário levanta a sua voz nas praças, nas feiras livres, nos terminais de ônibus e proclama bem alto a sua verdade. Mesmo que ninguém lhe dê atenção, ele continua “vendendo o seu peixe”, certo de que está cumprindo a sua missão.
Qual João Batista no deserto, esse arauto dos tempos modernos “dispara o seu canhão” acusando, defendendo e principalmente alertando a todos sobre o perigo do fogo do inferno. Admiro a sua coragem e a sua desenvoltura diante da indiferença dos circunstantes. Admiro também a sua fé, a qual posso ver em seu rosto e em seus gestos apontando para o céu ou para o peito. Um profeta moderno tentando converter os “pecadores desavisados”.
A arte de pregar solitariamente vem de muito longe. Desde os tempos de Noé, que anunciava a chegada iminente do Dilúvio, os profetas da antiguidade já anunciavam os juízos de Deus – muitas vezes vestidos de saco e cobertos de cinza demonstrando extrema humildade. Era uma forma de chamar a atenção do povo e exorta-lo a um sincero arrependimento. Eles eram perseguidos e presos, mas a despeito de tudo não negavam a sua fé, nem se intimidavam diante dos opositores.
Com o advento da moderna tecnologia surgiram “os pregadores eletrônicos” e essa propaganda passou a ser feita através dos meios de comunicação alcançando e atraindo milhões de pessoas. Apesar de todo este incremento, ainda é possível ver, mormente nas grandes cidades, esse profeta apocalíptico. A sua presença é sempre motivo de curiosidade e muitos se sentem incomodados diante desta figura exótica e fatalista.
Alheio a tudo, o pregador prossegue a sua missão. Nada o desanima. Sem equipamentos de som, sem sequer um megafone ele grita, gesticula, vocifera, esbraveja... Alguém comenta, insinua alguma coisa, dá as costas e se vai – ele, entretanto, continua... Esse “mensageiro da última hora” pode ser considerado inculto ou desequilibrado, mas de uma coisa ninguém tem dúvida: ele tem fé e uma força interior insuperáveis. Indiferente a tudo e a todos, ele continua proclamando a sua verdade – e assim cumpre religiosamente a sua missão. Amigo leitor, você já parou para ouvi-lo?
Cícero Alvernaz (Membro da Academia Guaçuana de Letras)
POEMA DA LAVADEIRA
Lava, lava, lavadeira, Com a alma, com a mão. Água canta na torneira Sua líquida canção. Lava, lava, lavadeira, Sem descanso, sem razão. Sua história verdadeira Escreve-se com sabão. Água canta na torneira Sua líquida canção, Lava, lava, lavadeira, Com a alma, com a mão. A manhã é transparente, Brilha o sol com seu calor. Tanto sonho de repente Misturado com suor. Lava, lava, lavadeira, Sua roupa-ganha-pão, Você tem a vida inteira, Pra cumprir sua missão.
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