A COPA DOS PARADOXOS E DAS MANIFESTAÇÕES
De uns tempos para cá, a Copa do Mundo, também conhecida como Campeonato Mundial de Seleções, se transformou num torneio onde falam mais altos os interesses financeiros e políticos do que propriamente os resultados dentro do campo. Fora do campo é que aparecem os resultados com reuniões e exigências muitas vezes descabidas dos seus organizadores ligados à FIFA. Futebol, competição e torcida ficam de lado e se ressalta o quesito faturamento, que é o que realmente dita as regras deste campeonato mundial de seleções.
Sempre acompanhei este campeonato, desde 1970, quando ainda era um adolescente e morava em São Pedro do Avaí (Manhuaçu, MG) onde nasci e fui criado. Foi uma festa a minha primeira Copa em 1970, algo inesquecível. A partir daí eu passei a acreditar piamente que aquilo tudo era coisa séria, talvez mais séria do a religião ou mesmo a família. O Brasil foi campeão e isto para mim e para todos foi o máximo que poderia acontecer. Decidiu e ganhou a final contra a Itália e venceu de 4 a 1 com Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Pelé; Jairzinho, Tostão e Rivelino. Foi uma explosão só naquele pequeno Distrito que margeia a estrada Rio-Bahia.
De lá para cá, a minha emoção e a minha crença no futebol foi diminuindo a cada Copa: 1974, 1978, 1982, 1986, 1990, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010... Com o tempo fui entendendo melhor, lendo aqui, ouvindo ali e vendo como as coisas são organizadas e orquestradas dentro deste esporte tão envolvente e milionário. Hoje vejo com outros olhos e sou um crítico deste modelo que existe e de tudo que cerca uma Copa do Mundo.
A política está intrinsecamente ligada ao esporte, especialmente ao futebol. Os interesses são muitos e isto sufoca o espetáculo e tira em parte a emoção dos torcedores, pois muitos resultados hoje são mais do que previsíveis. É isto que sobrou das copas. O resultado final, o campeão geralmente é conhecido antes de começar o torneio. Em 1998, o Brasil lutou bravamente com Taffarel e companhia para chegar á final contra a França, a anfitriã. Torci muito, e o que vi naquela final? Não vi nada, pois não houve competição, não houve futebol. Vi a França ganhar e o Brasil assistir dentro do campo confortavelmente, como se estivesse num cruzeiro ou numa praia. Vergonha! Fiquei com vergonha de ser um torcedor desta seleção. Muitos leitores, com certeza, se lembram do que aconteceu naquela final. Hoje, até para me poupar, não torço mais por nenhuma seleção.
Agora, em 2014, a Copa é no Brasil. Muita polêmica, muitas manifestações, muito gasto: cerca de 33 bilhões de reais num País que está precisando de tudo na área social e convive com uma crise que o Governo insiste em negar. Claro que este Governo vai tentar tirar proveito deste torneio de futebol. Claro que depois de tudo – e também do que ainda deverá acontecer – o Brasil será campeão como foi em 2002 quando recebeu um presente na Copa do Japão/Coréia do Sul. Alguém tem alguma dúvida disto? E assim tudo ficará bom para todos os políticos, jogadores, organizadores, patrocinadores, torcedores, comerciantes, empresários. Só o povo continuará mal, sendo explorado, e continuará pagando a conta pelo resto da vida. Pois enquanto houver pão e circo o povo será explorado, caçado, comprado e enganado. Quem viver verá!
Cícero Alvernaz, 59 (Membro da Academia Guaçuana de Letras)
Mogi Guaçu, 28 de maio de 2014.
POEMA DA LAVADEIRA
Lava, lava, lavadeira, Com a alma, com a mão. Água canta na torneira Sua líquida canção. Lava, lava, lavadeira, Sem descanso, sem razão. Sua história verdadeira Escreve-se com sabão. Água canta na torneira Sua líquida canção, Lava, lava, lavadeira, Com a alma, com a mão. A manhã é transparente, Brilha o sol com seu calor. Tanto sonho de repente Misturado com suor. Lava, lava, lavadeira, Sua roupa-ganha-pão, Você tem a vida inteira, Pra cumprir sua missão.
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