POEMA DA LAVADEIRA

EU PERCEBI
Eu percebi
que esse mundo é meio louco,
que aqui às vezes o muito é pouco,
que a matemática nem sempre é uma ciência exata,
que uns comem no prato e outros comem na lata,
que a mistura de cores nem sempre forma outras cores,
que nem sempre no jardim há flores,
que o rico nem sempre é abastado e feliz,
que a gente nem sempre vive o que diz,
que o animal tem mais valor que o homem,
que muitas pessoas nem sempre valem o que consomem,
que o rio nem sempre passa debaixo da ponte,
que nem sempre posso confiar na fonte,
que sem palavras também se escreve poesia,
que nem sempre podemos sentir alegria...
Eu percebi
que a vida embrulha e depois joga fora,
que é mais cômodo ficar aqui do que ir embora,
que a ocasião não faz o ladrão,
que muita gente prefere andar na contramão,
que o amor é uma dança frenética,
que a realidade é uma certeza hipotética,
que é preciso engolir sapos e pererecas,
que não se vive só de panquecas,
que a festa nem sempre é sinal de alegria
e que poucos entendem a minha poesia.

Cícero Alvernaz (autor) 02-11-2017.