CONVERSA DE COMADRES
-Você nem imagina o quanto eu ralei pra chegar até aqui!
-Imagino sim.
-Não imagina mesmo.
-Não imagino... (pausa).
-Foi duro, foi amargo, comi o pão que o diabo amassou.
-É?
-Sim, carpi café, rachei lenha, toquei gado, matei porco...
-Vige! Tudo isto?
-E tem mais: aguentei cada coisa, engoli cada sapo!
-É, você falando assim cresce no meu conceito. Eu pensei que você só tivesse feito programa. Pelo jeito, fez coisa muito pior.
-Pior, põe pior nisto. Cheguei a lavar roupa pra fora, engraxei sapato, catei sucata, carpi lote e até fiz faxina, mas consegui vencer e hoje tenho o meu Fusca 78 brilhando na "garage".
-Tô vendo mesmo, está uma belezura. Deve ter custado uma nota preta.
-Custou caro, mas não anda, anda sim, mas eu não tenho dinheiro pra por gasolina.
-Também, gasolina no preço que tá!
-E os documentos também estão atrasados, tem umas multas e ainda devo 5 prestações, mas é meu.
-Você é uma heroína, um exemplo pra quem só vive reclamando.
-Eu num reclamo. E se encontrar alguém que quer, eu faço programa de novo. O importante é ganhar uns cobre.
-Você tá certa, amiga. O importante é ganhar dinheiro, se manter e pagar as contas. Andar com a cabeça em pé. Afinal, como diz o Frank Aguiar: "lavou, enxugou, tá nova".
-Verdade. Tô novinha em folha.
-Tô vendo. (Risos).
-Cê duvida?
-Não, tô vendo e sei que você ralou muito pra chegar até aqui. A conversa tá boa, mas vou indo. Tchau!
-Tchau. Volta mais tarde pra gente conversar mais.

Cícero Alvernaz (autor), 22-04-2015.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POEMA DA LAVADEIRA

ZONA RURAL