POEMA DA LAVADEIRA

O SAGRADO DIREITO DE FICAR CALADO

                        Ficar calado pode parecer covardia, omissão, mas, na verdade é um direito inerente a qualquer cidadão. Não responder nada diante de uma pergunta, ou fazer apenas um gesto negativo ou positivo pode até revoltar alguém, porém é um direito que temos: o sagrado direito de ficar calado. Alguns chegam a dizer quando são interpelados: só falo na presença do meu advogado. Muitas vezes esse gesto reflete sabedoria diante das circunstâncias às vezes adversas. É melhor não falar nada do que falar e depois se complicar caindo em contradição. Ficar calado, em geral, é mais difícil do que falar. É por isto que muitas vezes preferimos falar.

                        Diante de Pilatos, Jesus ficou calado e mais uma vez nos deu o exemplo de sua infinita sabedoria. Às vezes o nosso silêncio fala mais alto do que os gritos de uma multidão. Em alguns casos, porém, a língua coça e a pessoa em questão não consegue mante-la quieta na boca. Os antigos já diziam: em boca fechada não entra mosca – e eu acrescento: também não sai cobras e lagartos. Quantas vezes nos arrependemos por termos falado demais! O problema ás vezes nem é falar demais: é a interpretação que as pessoas podem dar às nossas palavras. Resumindo: na dúvida, é bom ficar sempre de bico calado.

                        Dizem que a mulher fala mais do que o homem. Será verdade? Se elas falam mais eu não sei, mas sei que é sempre bom ouvir uma voz feminina bem mansa aos nossos ouvidos! Por outro lado, quando uma mulher fica calada, quieta, ensimesmada, sonhadora é algo inspirador que mexe até com quem não é poeta. Mas não quero me distanciar do tema em epígrafe que me parece muito interessante. Ficar calado é mais do que uma virtude: é a certeza de não se comprometer falando o que não deve. Muitos acham que falar demais é sinal de inteligência e de sabedoria, entretanto muita gente fala como se fosse um papagaio, faz muito barulho, mas não diz absolutamente nada que seja proveitoso. Há pessoas que pensam para depois falar, outras falam tanto que não têm tempo de pensar e muito menos de raciocinar. As nossas palavras têm peso, conteúdo e refletem o nosso caráter. Existe o momento certo para pronuncia-las. A Bíblia diz:” Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo”. (Provérbios 25.ll).

                        Falar demais é um hábito às vezes incorrigível. Além de ser desagradável também afasta as pessoas. Quantas vezes queremos apenas ouvir “a voz do silêncio” e então aparece alguém e fica falando e gesticulando sem parar ao nosso redor. Quando isto acontece, a única alternativa que temos é pedir licença e deixar a pessoa literalmente falando sozinha. Bem, agora tenho que parar. Acho que por hoje já falei demais.

                        Cícero Alvernaz (Membro da Academia Guaçuana de Letras)

                        Mogi Guaçu, 26 de março de 2008.