EU ME AMO
Eu escrevo e me leio,
me releio, escrevo,
reescrevo e me releio.
Eu me curto e me admiro,
faço parte do meu fã clube,
da minha torcida organizada,
me dou autógrafo e me elogio
narcisisticamente.

Gosto de mim,
passo horas me vendo,
me lendo, me relendo.
Ando comigo,
não me deixo nem para ir ao banheiro.
Sou meu fã de carteirinha,
de caderneta e de lapela.
Adoro me ler,
nem que seja uns versinhos
de pé quebrado
como se dizia antigamente.

Curto tudo,
até os rabiscos, rascunhos,
e os erros
que, conscientemente, cometo.
Eles fazem parte da minha arte;
o artista nunca erra:
ele comete pequenos equívocos.

Eu me admiro,
me dispo e me olho curioso
e orgulhoso de ver tanta beleza exposta
e digo: que desperdício!
Tanta beleza pra ninguém pegar,
tocar, admirar...
Aí eu escrevo de novo,
conto minhas aventuras com as letras,
me leio, me releio,
unicamente por prazer.


Um prazer incontido, atrevido,
saído das profundezas do meu âmago,
das minhas entranhas que eu não vejo,
mas admiro.
Se alguém quiser me ler, eu deixo.
Fiquem a vontade.
EU ME AMO.

Cícero Alvernaz (autor).

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