O RELÓGIO DA PAREDE

Olhei aquele relógio que eu já tinha olhado muitas vezes, mas nunca tinha notado que ele também me olhava. Não só olhava como também me encarava e falava comigo, às vezes me alertava, mas eu fingia que não via, nem ouvia, afinal, era só um relógio que, por sinal, custou muito barato. Aquele olhar do relógio da parede mexeu comigo e eu fiquei cabreiro com aquilo, afinal nunca tinha percebido e achei aquilo invasivo, eu não gosto que ninguém se intrometa na minha vida. Me levantei e fui dar uma volta no quintal, mas não consegui deixar de pensar naquilo. Quando voltei e de novo me sentei na frente do computador não aguentei a curiosidade e olhei de novo aquele relógio. Ele continuava me olhando, mas de um jeito diferente: mais diretamente. Disfarcei, mas de novo olhei, encarei bem e falei com ele: "O que cô cê qué comigo?". Ele não me respondeu, mas eu entendi o que ele queria dizer. Desde então nos falamos e até damos risada um do outro. Não sou louco, sou apenas um poeta. (28-08-2020)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POEMA DA LAVADEIRA

ZONA RURAL