O RELÓGIO DA PAREDE
Olhei aquele relógio que eu já tinha olhado muitas vezes, mas nunca tinha notado que ele também me olhava. Não só olhava como também me encarava e falava comigo, às vezes me alertava, mas eu fingia que não via, nem ouvia, afinal, era só um relógio que, por sinal, custou muito barato. Aquele olhar do relógio da parede mexeu comigo e eu fiquei cabreiro com aquilo, afinal nunca tinha percebido e achei aquilo invasivo, eu não gosto que ninguém se intrometa na minha vida. Me levantei e fui dar uma volta no quintal, mas não consegui deixar de pensar naquilo. Quando voltei e de novo me sentei na frente do computador não aguentei a curiosidade e olhei de novo aquele relógio. Ele continuava me olhando, mas de um jeito diferente: mais diretamente. Disfarcei, mas de novo olhei, encarei bem e falei com ele: "O que cô cê qué comigo?". Ele não me respondeu, mas eu entendi o que ele queria dizer. Desde então nos falamos e até damos risada um do outro. Não sou louco, sou apenas um poeta. (28-08-2020)POEMA DA LAVADEIRA
Lava, lava, lavadeira, Com a alma, com a mão. Água canta na torneira Sua líquida canção. Lava, lava, lavadeira, Sem descanso, sem razão. Sua história verdadeira Escreve-se com sabão. Água canta na torneira Sua líquida canção, Lava, lava, lavadeira, Com a alma, com a mão. A manhã é transparente, Brilha o sol com seu calor. Tanto sonho de repente Misturado com suor. Lava, lava, lavadeira, Sua roupa-ganha-pão, Você tem a vida inteira, Pra cumprir sua missão.
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