UMA CARTA
Escrevi uma carta
sem vontade e sem pressa,
endereçada a alguém.
Eu era o remetente,
mas não tinha destinatário,
era um texto imaginário,
uma carta sem destino,
brinquedo de algum menino
que assim se divertia.
Talvez uma carta-poesia
que quase nada dizia,
mas muita coisa queria,
pois reclamava e pedia
por alguma providência,
coisa da consciência,
nela eu pedia clemência
para quem tivesse dó,
pois o povo sofre só
sem ter a quem recorrer.
Escrevi uma carta
sem vontade e sem pressa,
mas só recebi promessa,
pois ninguém me respondeu.
Porém, o culpado fui eu:
não tinha destinatário,
era só o imaginário,
o desejo de escrever,
e por não ter um destino
a carta nunca chegou
e ninguém a pôde ler.
Cícero Alvernaz (autor) 28-07-2016.

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