ESCREVO
Escrevo,
mas não alimento a ilusão
de ser lido, relido,
e admirado.

Trata-se de uma entrega
a mim, ao tempo, ao espaço,
quase uma brincadeira
de quem não quer brincar.

Escrevo
como quem procura estrelas
de dia, ou vagueia de noite
sem destino e sem medo.

Às vezes me atrapalho
com as luzes
e então me abrigo na penumbra
esperando o tempo passar.

Escrevo
porque não consigo
me comunicar de outra forma.
As palavras ditas são esquecidas
e se perdem.

Prefiro falar comigo a suplicar
a um amigo que fique.
Eu sempre me encontro,
mesmo quando vagueio
e tento me esconder.

Escrevo
e me leio e saboreio
as palavras.
Brincamos livres todo dia
num encontro de vogais e consoantes
como dois amantes.

E dessa brincadeira nasce
o dia, o sonho, a poesia,
nasce essa vontade louca
de continuar vivendo
e continuar escrevendo.

Cícero Alvernaz (autor), 14-05-2015.

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