UMA ELEIÇÃO QUE ESTÁ SOB SUSPEITA

Não gosto de ficar repetindo os assuntos, pois isto dá a impressão de que estou sem assuntos e alimentando os leitores com comida requentada. Mas quero falar algo em torno da eleição que ocorreu recentemente para a presidência da República Federativa do Brasil. Nunca na minha vida de cronista e analista, muitas vezes polêmico, vi algo igual ou próximo do que todos nós vimos e ainda estamos vendo. Eu sempre acreditei em eleições, sempre votei, nunca anulei o meu voto, nem votei em branco, há 40 anos. E sempre acompanhei e acreditei na lisura das eleições. Quando surgiram as urnas eletrônicas entendi como um avanço que ia facilitar e até mesmo corrigir alguns possíveis erros na contagem dos votos. Não sou deste tempo, mas dizem que antigamente se votava assinando um livro. E muita gente era incentivada a ir votar em troca de um pão com mortadela. Quando se perguntava em quem o eleitor votou, ele dizia prontamente: “Eu votei no pão com “mortandela”. Isto foi no tempo que amarravam cachorro com mortadela, digo, linguiça.
Mas vamos aos fatos: Como disse em epígrafe, sempre acreditei na lisura das eleições. Hoje, porém, não acredito mais, por um motivo simples: há suspeitas e se há suspeitas tem-se que apurar. Ademais, nunca se fez uma apuração como na última eleição. Sempre as apurações são feitas voto a voto. Milhões de internautas, telespectadores e rádio-ouvintes ficaram aguardando a contagem dos votos, principalmente porque o candidato da oposição aparecia bem à frente em quase todas as pesquisas (com exceção do Ibope e Data-Folha que acusavam empate técnico), mas nada acontecia, tudo continuava no zero a zero. Estranhei este fato, mas hoje, juntamente com milhões de eleitores, eu imagino por que isto aconteceu. Por isto defendo que se faça alguma coisa, mesmo sabendo que isto não vai acontecer e não ia adiantar nada. A gente ouve falar tanto em fraude em eleições presidenciais em outros países e quando isto supostamente acontece por aqui é como se não adiantasse acreditar em mais em nada e em ninguém. Não há nada mais sagrado do que a consciência do eleitor. Por fim, com mais de 95% das urnas apuradas, muitas delas suspeitas como se soube depois, é que se deu o resultado, que favorecia a candidata oficial por pequena margem de votos. Alguma coisa deveria ter sido feita, até para dirimir possíveis dúvidas quanto ao pleito. Mas nada se fez, nada se faz, nem vai se fazer. Esta eleição já passou para a história e vai carregar consigo essa mancha. Acredito que milhões de cidadãos-eleitores, a partir dela não vão acreditar mais em lisura e seriedade em nenhuma eleição.
Este assunto já foi muito comentado, de ambos os lados, mas foi vergonhosa a exploração que se fez do Programa Bolsa Família, do Governo Federal. Em algumas cidades, principalmente em Minas, carros de som percorreram as ruas da periferia para alertar os eleitores afirmando que se o “candidato da mudança” vencesse a eleição, ele iria acabar com o Programa Bolsa Família. Mentira! O que estava em projeto era moralizar o Programa, melhorá-lo e tentar dissociá-lo da política partidária. Afinal, o eleitor deve sempre votar com a sua consciência, e não em troca de alguns reais mensalmente. Nenhum brasileiro, em sã consciência, é contra quaisquer programas sociais, os quais existem desde o tempo dos governos militares. E hoje tentam impingir isto às pessoas que são contra a chantagem e as mentiras disseminadas em época de campanha. Na verdade, o governo escondeu ou tentou esconder a situação do País, através dos dados do IPEA (instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) varreu dados importantes para debaixo do tapete (Vide Folha de S. Paulo, 23-10-2014) e hoje nós vemos na mídia a realidade em que vivemos, pois todos nós sabemos que a mentira tem perna curta. É só ouvir e ver os telejornais, ler a internet, ouvir as rádios, ver e sentir a nossa realidade que é decadente em todos os setores. Por fim, é necessário dizer, mais uma vez, que não sou filiado a nenhum partido, não odeio nenhum partido, assim como não amo de paixão a nenhum político, mas sou “povão” e não aceito que se use as pessoas e em troca façam chantagem com um Programa Social que não é de nenhum governo ou Partido, mas sim do povo, pago pelo povo e que deve ser administrado para o povo e não simplesmente com fins eleitoreiros como tem acontecido. Pela primeira vez numa eleição me senti frustrado, não com o resultado em si, embora ele esteja sob suspeita, mas com a forma como tudo foi conduzido e se chegou a um resultado final, que, pelos antecedentes, já era previsível. Pensei que só no futebol a gente via essas coisas. Neste ano, sim, tivemos uma eleição que está sob suspeita. Mas vai ficar por isto mesmo, como tudo neste País.

Cícero Alvernaz (Membro da Academia Guaçuana de Letras, cidadão brasileiro e guaçuano). 06-11-2014.

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