BENDITAS PALAVRAS! Há palavras que muitas vezes não dizem nada, mas comunicam uma ideia, um momento de confusão ou de alegria. Furdúncio, imbróglio, treta, arranca-rabo, arrasta pé, cama de gato, rolo, zoeira, arrego, roseta, frenesi, carranca, carniça, sustança, remelexo... Não gosto de procurar palavras, implorar pela presença delas e nem consultar dicionários ou mesmo o Google. Eu prefiro esperar que elas apareçam dentro do contexto do meu verso, de livre e espontânea vontade. Se elas se esconderem, por capricho ou por preguiça, eu continuo esperando a vontade delas. Elas são e serão sempre bem vindas, pois são a matéria prima que todo escritor precisa e sempre usa, mas eu respeito a vontade delas, por isto não vou atrás, não tenho esse direito. Felizmente, elas gostam de mim e quase sempre dão o ar de sua graça enfeitando e colorindo a minha poesia, muitas vezes tão pobre e tão carente. Benditas palavras! Inicio assim a minha dissertação neste dia ensolarado de domingo, acompanhado pelas palavras amigas e fiéis que brotam de mim com o seu viés e formam peças literárias dentro do meu sonho de escrever e materializar o meu pensamento, que voa e se reencontra em alguma paragem. É fundamental usar as palavras certas, mas onde elas estão? Se eu as procuro, elas podem se esconder, se eu as chamo, elas podem não vir e nada falar, nada dizer. Dependo delas para escrever e até para viver. Fico imaginando a luta de Drummond com as palavras. Certa vez ele escreveu: "Lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe a manhã". Não é só o escritor, o poeta que luta com as palavras: elas são o veículo de comunicação, a ponte que nos une e nos insere na sociedade. O escritor materializa o seu pensamento usando as palavras, transmite o seu pensamento, a sua ideia, a sua opinião e assim se comunica. A vida olha da janela, a criança brinca no seu mundo, o cão se deita e dorme em pleno dia. O trabalhador está atarefado, preocupado, e vê o dia e a vida passar. O escritor se senta e tenta escrever, mas nem sempre as palavras estão de bom humor. Aí começam a aparecer palavras diferentes, estranhas e esquisitas que vêm brincando e caçoando pulando sobre o caderno, ou escorrendo na tela do computador. Mas o poeta quer outras palavras, palavras de amor, de sonho, de desejo, de afeição... Ele quer compor uma poesia, rabiscar um verso, ver uma flor se abrir em meio às ruínas. Poesia é paradoxo, a flor nasce no asfalto, na calçada onde o lixo é jogado. Se comunicar é bom, se reinventar é bom, colher é bom, desejar é bom e faz parte da vida. Mas alguém me pergunta: até onde você quer chegar? Não tenho limites, não ponho limites à minha criatividade, não sei o que estou fazendo, mas sei que estou fazendo algo bom, algo lindo e infindo. É preciso poetizar, construir, formar versos, lapidar, descobrir e me comunicar. Benditas palavras! Palavras que se soltam e se entregam e nunca se negam. Palavras de poeta, palavras que fluem e se tocam e se deixam levar pelo vento. Palavras de poeta, palavras de Deus, por Ele inspiradas que alcançam vidas e alegram corações. Nossa vida depende dessas benditas palavras. Nosso coração bate e pede a presença dessas benditas palavras. Elas dão mais vida à nossa vida, pois são vivas e transmitem vida. Benditas palavras!

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