ENSAIO PARA A MORTE.

Ao nascer, a pessoa já inicia o seu "ensaio para a morte". Cada dia que passa é um dia a menos de vida. Ensaiamos diariamente e muitos se vão antes de terminar o seu ensaio. A partir de uma certa idade, efetivamente, começamos a morrer. Desgastamos fisicamente, mentalmente e ficamos vivendo dentro de uma realidade que nos deixa quase sem nenhuma perspectiva. Na verdade, contamos os dias e as noites longas vivendo em contagem regressiva e, literalmente, esperando pelo fim. Dentro deste ensaio adquirimos muita experiência e vivemos situações as mais diversas. A vida é um espaço entre o nascimento e a morte, e neste espaço ficamos, a cada dia, conscientes de que tudo que tem começo, tem um meio e um fim. Dentro do teatro da vida ensaiamos, muitas vezes representamos, rimos e choramos, mas, sobretudo, vivemos e aprendemos. Costumo dizer que quem consegue chegar aos cinquenta anos começa a partir daí uma contagem regressiva. O peso nos encurva, nos arremete e nos amedronta. Mas, por outro lado, esses são os melhores anos de nossa vida, pois valorizamos mais a vida e o seu contexto, amamos mais e não perdemos tanto tempo com mesquinharias. Este é o melhor momento da vida, é a essência da vida. Já ensaiamos muito e estamos preparados para, finalmente, fazermos a nossa apresentação.

Cícero Alvernaz (autor), 21-07-2014.

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