A VIDA DE UMA DANÇARINA NOS PALCOS DA VIDA 
                       
                         Hoje em dia se ganha muito dinheiro se exibindo por aí nos meios de comunicação de massa ou nos palcos da vida chamando a atenção dos espectadores, se abrindo para as câmeras e para o público como se fosse um produto ou alguma fruta madura, pronta para ser colhida. A pessoa exposta nessas vitrines fazendo caras e bocas, dançando e rebolando ao ritmo de alguma música pobre e de duplo sentido, por um momento é uma estrela que é vista, admirada e até invejada por muitos. É como se fosse uma boneca pequena que atrai, mas não consegue raciocinar e nem se proteger das mãos de eventuais predadores.
                        Esse é um comércio considerado normal e legal onde todas as partes ganham. Em especial, ganha o público que é premiado olhando e desejando aquele “objeto” exposto ali bem diante de seus olhos.  E alguém suspira: “Eu a conheço. Há bem pouco tempo ela era apenas uma adolescente, hoje é esse mulherão todo...” Tudo é normal neste contexto bestial em que o ser humano de repente é transformado numa espécie de mercadoria comum que é vendida, tocada, emprestada e depois devolvida após ser manipulada a gosto do freguês. É o mercado que explora a sensualidade fazendo emergir desejos e taras como se fosse algo comum e normal. A jovem obedece cegamente aos desejos e caprichos da platéia ensandecida e se joga toda nos braços de quem dá mais. Que estranho destino, que profissão mais indigna!
                        Essa jovem, por mais paradoxal que pareça, é o orgulho da comunidade onde ainda vive. Desde muito criança ela já demonstrava interesse pela “vida solta” e aparentemente sem compromissos. Morena, boa estatura, cabelos sedosos e ondulados, corpo escultural, olhos cor de amêndoa e um sorriso enigmático com dentes perfeitos e muita sensualidade. Por onde passava era alvo de comentários e inevitáveis “xavecos” dos marmanjos do bairro. Daí até entrar para o “meio artístico” foi só um pulo. Ela foi subindo pouco a pouco e se preparando para ser uma estrela de primeira grandeza nos palcos da vida. Hoje, quem a vê na telinha não muda de canal nem que “alguém” brigue ou xingue cheia de ciúmes. A presença dela faz subir a audiência e também faz cair o queixo de muitos telespectadores mais assanhados. O sangue esquenta, o calor aumenta enquanto ela dança e as câmeras mostram o seu rebolado irresistível.  Os adjetivos a ela endereçados são muitos e alguns são impublicáveis. Ela é fruta, flor, perfume, desejo, sonho de consumo... Mas ela, na verdade é apenas uma jovem frágil como tantas outras que ganham a vida usando o corpo ou sendo usada por causa de seu lindo corpo.
                        Essa, em geral, é a vida das estrelas que estão em destaque por aí. De menina simples, adolescente bonita, estudiosa, admirada, em pouco tempo tornou-se alguém que, infelizmente, não é vista mais como uma pessoa normal, sensível, sonhadora e carente como tantas outras. Hoje, via de regra, ela é vista e tratada como um simples objeto de satisfação e realização pessoal. Manipulada, tocada e usada ela segue a sua rotina. De repente, ela para e se olha no espelho, olha o céu, suspira, chora e diz: “eu não quero mais esta vida, quero viver e ser tratada como gente...” Cansada, ela se deita, dorme e sonha que é uma estrela. Corre e brinca pelo céu entre as estrelas que lhe abraçam e sorriem envolvidas por uma nuvem... Porém tudo foi um sonho - e no  outro dia ela volta a encarar a sua dura realidade que é a de ser novamente manipulada nos palcos da vida. 

                        Cícero Alvernaz (Membro da Academia Guaçuana de Letras)
                        Mogi Guaçu, SP, 01 de agosto de 2008.
                       

                        

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